BLOGGERAL

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

AURORA NO CREPÚSCULO

Supersônico, o vórtice letal está a galope:
Sinto a sua fragrância lancinante
Pairar sobre as redondezas
Do nosso cangote.


Belicosidade e ganância
São seu ultimato,
O mais dantesco aviso prévio:
A senha para convergirmos
Concomitantemente ao mesmo cemitério raso.


Desejo que saibamos
Da universalidade do sol:
Sua majestade brilha para todos,
Não se restringe tão-só
A alguns poucos rouxinóis.


Ah, mas a cegueira
Nos vegetaliza a mente:
Os pensamentos, como
Prole da livre fluência,
Entram em estado de animação suspensa,
Tornando-se permeáveis
Á ruína de tudo o que seja sinfonia
Da autônoma consciência.



Todavia a esperança persiste:
Embora viva mutilada,
Ela sonha que um dia
Tocará o arco-íris,
Transformando-o
Na sua mais cara
E egrégia harpa.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

http://www.myspace.com/nirvanapoetico
· http://twitter.com/jessebarbosa27

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

QUERERES POÉTICOS

Seduzir o ar com fonemas.
Parir Rosas, Palmas, Pérolas Negras,
Acácias, Esmeraldas, Alfazemas, Açucenas!


Morar eternamente
Na vivenda
Do mais acuidoso Poema!


Inalar o pólen da ausência.
Sentir a ressaca martelar
Pregos de langor e dolência no âmago da cabeça!


Ver o ódio gangrenar:
Confiná-lo,
Para sempre,
No necrotério das maléficas lendas!


Contemplar os oceanos de todas as Américas
E só poder derramar corpulentas lágrimas
Apenas!


Ser poeta,
Ser a água fresca da consciência!
Buscar na vida ---
Que continuamente rebenta ---
A face serena da majestosa
Maternal Natureza!


Ovacionar diariamente a quem ama.
Tocar obcecadamente Legião Urbana.
Hastear bandeiras do altruísmo e da libertária chama
Contra a peçonha da ganância, da tirania, da intolerância!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

FREE SOUND

O regue-raiz me fascina:
Ele injeta o soro da consciência
Na flagelada e severina vida-correria.


O regue-raiz anseia
Que a negritude tenha
Audição, compreensão,
Coragem, amor, identidade,
Sede, centelha, seiva, sageza
E sangue quente correndo
Pelas sodomizadas veias
Para lutar contra a sina
De sermos mastros
Sem direito á soberana bandeira
Da abolição verdadeira.


O regue-raiz canta
A dor, a saudade, a teima
De sonharmos com a liberdade contemporânea
Afagando as nossas bochechas,
Têmpera, tez, corpo, a vontade em chamas!


O regue-raiz, afinal,
Quer que nos tornemos
Submarinos, navios,
Veleiros e barcos á vela
Quais transformem o mar
Ressequido do nosso destino
Num dos mais caudalosos
Indômitos oceanos da Terra.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

VERSOS CATÁRTICOS

Farejo o aborto de ideias:
Pensamentos que anseiam
Alcançar o estado de palavra;
Acabam tendo a garganta-vácua
Por cova, arquete, mortalha,
A sua única câmara mortuária!


Farejo vales de sangue
Inundando as esquinas da vida:
Ecoa pelo espaço
O agônico bramido de fera ferida
Em virtude de mais uma morte
Por bala perdida.


Farejo a cidadania
Vivendo á base de morfina e hemodiálise:
Cidadão de primeira classe
É fazer com que toda a nação
Consuma o oxigênio da mente
E das auspiciosas oportunidades á vontade.


Farejo a mão do arco-íris
Pousar sobre o meu ombro:
Apesar da fogueira de vilanias,
Preconceitos, impotências e hipocrisias,
A esperança bate-me no peito
De afro-latinoamericano ainda!



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

ÁS PORTAS DA PSICODELIA POÉTICA

Ando comendo água pela vastidão dos bares da mente.
Ando zarpando pelo Atlântico da memória náufraga, dolente e incontinenti!
Ando constantemente prenhe de paisagens
Pululantes e sôfregas por gente.


Ah,
Como eu queria
Que soubéssemos
Ser o errático bólide do córrego infrene:

Conhecendo o sentido de se estar
Com a planta dos pés na terra;

Levados pelo remanso
De se estar plenamente
Ao sabor do ar livre;

Dispostos a polenizar a matéria
Do desconhecido que
--- á nossa frente ---
Placidamente fica á espera.


Ando sob o efeito
Da alterosa poeira,
Deixada pela energia cinética das ideias
Quais rebentam dos pensamentos quânticos:

Olhar além da gravidade,
Cujo códice de leis nos circunscreve e rege;

Mergulhar no infinito oceano
De mundos paralelos,
Fervilhando nos átomos
Da nossa pele e osso;

Flutuar sobre a onipresente
Neblina da estupradora Tirania,
Juntando-me ás Estrelas
Que formem a Luz da Chama Coletiva
Para derrotarmos a pérfida Realeza da Hipocrisia
E parirmos --- finalmente ---
O Reino da Pax-Poesia.




Ah, que temeridade que digo:
A bem da verdade,
Estou comendo água demais por dias a fio!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A SEMÂNTICA CAMINHADA DOS PENSAMENTOS

A vida é o orfanato da certeza:
Hoje se veste de monarca supremo da onipresença;
Amanhã poderá viver
Como o mais caro patrimônio da ausência.


Lembranças vagam mortas pela cabeça:
Nem mesmo poemas
Conseguem capturar a sua arcana seiva.


Migalhas são ofertadas
Com ares de bonança:
E assim, a camuflagem da sarjeta
Põe em coma o renitente sol da mudança.


A liberdade são veleiros camaliônicos
Que tentam fugir da tirania:
Seus discípulos incondicionalmente a perseguem
Ainda que morram de anorexia.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O VOO-ODE

Eu, a vela, a nau...
Eu, a jornada, a jangada, o jogral...
Eu, as estrelas, a estrada, os estafetas, o estendal...
Eu, a balsa, a valsa, a vala, o caos, a vazante, o vau...
Eu, a seca, a perda, a eira nem beira, a geleira, o fel, a treta, a majestade do sal...
Eu, o berro, a boca, a bomba, a fraga, a flauta, a falta, a sede, o embornal...
Eu, a guerra, a TERRA, a brasa, a cratera, A PRAÇA CELESTIAL...
Eu, a viela, a berinjela, a barrela, a vinícola, a Imagética, o parreiral...
Eu, o silêncio, a mesquita, a catedral, o concreto, a moreia, a Paz, A Pá de Cal...
Eu, o poema, a cadela, os pirilampos da favela, a cena, a marola, o plenilúnio do sol...
Eu, a Caatinga, Ipanema, o mar da Bahia, a poética aridez Cabralina, o Manguezal...
Eu, a ébana lida, Xangô, Tereza Batista, O Sambista, O PAÍS DO CARNAVAL...
Eu, a laje batida, a gata lasciva, o baba dominical...
Eu, o vento, a ventania, o tempo, o outro lado da Física, a ânsia gutural...
Eu, Lião, Policarpo Quaresma, Lea, A Miragem Vil-Metal...
Eu, Luísa Main e Zeferina, Zumbi, João de Deus, Lucas Lira, O Livre Líquido
Mineral...
Eu, Marighella, Che Guevara, Lamarca, Panteão do Araguaia, REVOLUÇÃO,
O Saber de Karl, A INTERNACIONAL...
Eu, Mandela, Malcolm X, Martin Lutter King, O Incolor Sonho Imortal...
Eu, Alegria-Alegria, A Palo Seco, Refazenda, Asa BrAnCA, Milagreiro,
Roda-Viva, Ideologia, Maria-Maria, A Mosca Na Sopa,
O Bêbado E O Equilibrista, Marina, Campo de Batalha e Malandrinha,
O Vento No Litoral...
Eu, o avesso do avesso, o verso, o verbo, a sedução do realejo,
A Comédia acontecendo, o Drama de não se conhecer a si mesmo,
Ocasos, orgasmos, beijos, canaviais, carvoarias, lagrimas efusivas,
A Vida Afinal!



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

domingo, 1 de novembro de 2009

VENTANIAS DA MENTE

Preciso adelgaçar cometas.
Preciso nivelar-me ao celeste azul.
Preciso ler Manuel Bandeira.
Preciso ouvir As Rosas Não Falam, Free Jazz e Blues!


Preciso garimpar as incertezas da certeza.
Preciso tomar um porre de Rum.
Preciso pôr as cartas sobre a mesa.
Preciso flertar com O Bando de Teatro Olodum!


Preciso sentir a textura da tez da minha Preta.
Preciso prementemente ir á rua desnudo do habitual calandu.
Preciso assistir --- de novo --- á película O Baixio das Bestas.
Preciso pagar --- com os juros da cara --- a conta de luz!


Preciso dormir por 8 horas.
Preciso comprar os acústicos de Jorge Benjor, Seu Jorge e Paulinho da Viola.
Preciso gostar de comer chchu e saber que não sou cult.
Preciso criar coragem para suportar o peso da minha Cruz!


Preciso encarar a barrela.
Preciso fazer 1 bilhão de aquarelas.
Preciso descobrir minhas raízes no Benin ou na Nigéria.
Preciso demonstrar mais amor pela Terra.
Preciso ser Angola, Moçambique, Sudão, Somália, Etiópia e África do Sul.
Preciso chupar acerola, umbu, cajá além de caju.
Preciso largar mão de querer rimar com o fonema e o corpo da letra U!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A ESTAÇÃO ABSOLUTA

A espera teve seu cobro,
Porque os matizes da rarefação
Habitam-me a mente
E copulam o meu corpo.


Tenho a leda, refrigerante e vívida sensação
De que posso flutuar qual uma pena:
Floresço como filho da ubiquidade
Pois me transmudo no hialino corcel negro
Que cavalga pelas enigmáticas e copiosas
Alamedas da esconsa face do firmamento,
Onde ascendo ao trono de escudeiro da onipresença.
Ah, ao assumir a forma do vento,
Incorporo a sua mais etérea essência!


Creio olhar as paisagens da consciência
Com plástica, total mas também sóbria clareza:
Impressiona-me como a sensibilidade,
Livre das amarras da ferina indulgência,
Faz-nos mirar, fixamente,
Nos furtivos olhos da malevolência.


No entanto, este ainda não é o crepúsculo
Da minha odisseia:
Ao ter o ensejo de prospectar
O fundo dos olhos da sádica Quimera,
Penetro-lhe no âmago da caverna,
Lugar no qual contemplo a fronte da hipocrisia:
Imagem abjeta! Abjeta! Ojeriza!




Afinal, sinto-me em paz comigo mesmo.
Entretanto a paz com o mundo
É uma atroz miragem que reina
Além das nossas humildes e impotentes vistas,
Confinadas, eternamente,
No éden dos desterros;
Uma imensurável chaga aberta
Pelos prisioneiros da inesgotável
Síndrome da cobiça, da indomada ambição,
Do maléfico e insidioso desejo!


Ah, todavia, sou
O amálgama do correr
Do guepardo e da gazela:
Apesar das intempéries de tristeza,
Que me lancinam e me laceram a mentosfera,
Durmo sereno, ao menos hoje,
Por estar sob o aconchego
Da plácida nave da Primavera.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O SELVAGEM LIRISMO

(TRIBUTO A HILDA HILST)


Caminhando o caminho do diverso,
Ela nos mostra a lírica contida
No ferino, íntegro e libertino verso.


E ao galopar
Cômoda e colossalmente
Sobre o lombo do Pégaso da mente,
A mestra da feérica palavra lasciva e corrosiva,
Munida do antídoto contra a hipocrisia,
Transmuda sáfaras e necrópoles da consciência
Em edens monumentais do pensamento
Cuja paixão é navegar no oceano da contínua luminescência,
Mesmo sendo bombardeada pelo inexorável sol da inveja,
Da ira mais intensa!


Ventania, Rebeldia, Anarquia, Anti-hipocrisia, Amor de carne, Fantasia:
São tantas as alamedas em que ela,
Indomada, desfila;
É tanta a energia que as suas mágicas palavras irradiam;
É tamanha a técnica que domina;
É tão imensurável a certeza de sua cintilante onipresença ladina e arredia
Que, embora seu corpo repouse
Na cidade da augusta dimensão desconhecida,
A verdadeira, alada, carnosa, líquida, alcoólica Poesia
Sua pessoa, sempre e com muita alegria,
Imortaliza!


Vai, Ursa Maior
Vai, Tempestade
Vai, poderosa Melodia
Vai, inesperado e epifânico Graal
Vai, vocabular colossal Estrela ígnea
Vai, POESIA, seja eterna e simplesmente HILDA!JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

SONG OF THE SOUL

Dentro de mim,
O balé do nada baila:
Baila á canção
Da manhã de vontades e sáfaras.


Contudo, dentro de mim,
Mais que o niilismo,
Prepondera a esperança
De que uma nova era rebente
E consigo traga
A Flora, a Aquarela, a Bonança, a auspiciosa Aura:


Oceanos da água pletórica, prenhe, fausta
Para nossa sofrida e calejada
Gente cuja corrente sanguínea
É Pujança, Fauna, Garra Leonina, Matriarca!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 6 de outubro de 2009

BÍPEDE ARTIFICIAL

As pernas pneumáticas
Levam-me pelo quarto,
Pela sala, pelo subsolo,
Pela varanda, pelo corpo da casa grosso modo.


As pernas pneumáticas
Conduzem-me como um cicerone insano pelas cidades-culturas-personagens:
Lama, mar, PESCADORES, BAIANAS, marinheiros, arranha-céus, becos,
Risorts, bregas, Lacerdas, Malvinas, Ondinas, Lapinhas, LIBERDADE;


InvasÕES, Iemanjás, Sertões, Caatingas, LENçóIS, Santanas, Romaria
Amaros, Romeiros, sobrados, teatros, AlAgaDOS, Diamantinas, BRUMADOS,
Candomblés, Juazeiros, Jubiabados, ITABunas, NegrituDES, Garibaldis,
Jequiés, Cachoeiras, Oguns, Abaetés, ermidas, templos, sincréticas paisagens!


As pernas pneumáticas
Trazem-me de volta:
A minha verve de Pedro Bala adormece, de novo, sob o afago da estafa.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 3 de outubro de 2009

A POEM TO LUCIANA SLONGO

Sábia sensoriedade que semeia jardins de prospectar
A grandeza habitante no templo do orgânico rio dramático da vida.
Sábia sensoriedade que, com sua lírica sagacidade,
Desmascara a atroz teatralidade ladinamente homicida.
Sábia sensoriedade que exala doces aromas de alacridade e magia.
Sábia sensoriedade que compõe odes e árias
Ao heliocentrismo da liberdade.
Sábia sensoriedade que carrega consigo
O gene da sensibilidade capaz de captar
A beleza do mundo,
Encerrada
No imorredouro fluir e refluir do oceano dos dias comumente jucundos.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 8 de setembro de 2009

O VERDADEIRO NOME DA TERRA

Semeamos o semear infausto:
O auspício ---- ao contemplar o nosso rosto ----
Delibera passar ao largo;
E a nossa colheita
Desembarca no porto dos ares
Da pátria do calvário.


Quem dera detivéssemo-nos nas mãos
A chave que abre a porta do alto grau do discernimento...
Porque assim compeliríamos
Os atrozes estupradores do mundo
A se envergar ante os nossos sonhos e
A se render á luminosa sofreguidão
Dos velozes corcéis dos nossos ideais-intentos magnânimos.


Ah, tudo poderia ser tão feérico e simples
Como é o claro lume pratino
Que emana a lua
Numa lindamente prosaica
Atmosfera noturna.


E a roda-viva do mundo a girar.
E o palhaço sádico a gargalhar.
E o terror a prosperar.
E o sentido da vida soturno a ficar.
E o crepúsculo se aproxima,
Munido de velocidade ímpar.
E o povo, apesar de tolhido pelo sofrimento ou tiranias,
Contempla o sol da esperança ainda a cara a lhe iluminar.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

NO CAIS DA SOLIDÃO

Singro leve,
Doravante, meu itinerário:
Filho do errático móbile luminoso dos pensamentos,
Porque viajo até o píncaro do imaginário
Como miraculoso bólide efêmero.


A alegria paira-me rutilante
Sobre o firmamento:
Mas será o seu sol
Um momentâneo incêndio, hein,
Que me esconda o dantesco breu
Dentro da nave do perpétuo crescendo?


Ah, e quando nisso penso,
Depreendo-me conforme um mastro,
Que habita sorumbático
Um cais também ermo
Qual afaga incansável
Uma interminável miríade
De matizes do vácuo.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 29 de agosto de 2009

Á PROCURA DE UM MUNDO ONDE HAJA SUNSHINE

As mãos tentam reter
O ar em sua superfície
Como matéria sólida.


Contudo, apesar da tenacidade do ânimo,
O sangue da atmosfera,
Pelos poros dos dedos, se liberta.


Então volto a ficar cabisbaixo:
Zarpando pelas águas
Da utopia onde se fixa
A universal felicidade retilínea,
Vislumbro a luz do sol pulverizar toda e qualquer mesquinharia.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 1 de agosto de 2009

ADMIRANDO O CREPÚSCULO

O etéreo se mitigando vai
Á medida que a baixa tarde solar
Irremediavelmente se faz cair
Sobre nós.


Gradativamente,
O etéreo do azul
Vai se perdendo,
Vai se desencontrando de si mesmo,
Vai se transmudando
Num levemente esbranquiçado vermelho
Que logo é sucedido por um breve azul-marinho.
Então, ele, em seguida,
Assume a forma de azul-basalto:
Assim, um outro etéreo do firmamento
Aflora. O etéreo do negro mar
Qual, sob o comando da nave lua,
Domina e guia os passos
Do céu meio aceso, meio sonâmbulo, meio silente orvalho
De lume cor candura!


Porém este novo etéreo absconde enigmas:
Não por ser negro. O negro é
Um diamante que emite uma luz magnífica.
No entanto, seu eflúvio
Difere dos outros dias. Mostra-se
Criatura voraz, facínora
Pois traz na saliva o sangue de incautas crianças!
Por trás de um véu obliquo e sombrio,
Repousa sua acossadora forma:
A face de Pandora.






Ah, e a flor da exultação brota
Dos lábios soezes dos eunucos da decência
Quando veem o desespero soçobrar
A alegria de desejar a vida de qualquer maneira.


Ah, ao pensar
Que estes assassinos seriais do amor
Governam esta atmosfera noturna,
Percebo que o etéreo deste negro
Também se tresmalha, se dilui:
Vira nada. E o que resta
É uma celeste bruma medonha.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 24 de julho de 2009

CRIPTOMUNDO

Há vocábulos que não conseguem migrar
Para a manancial da matéria:
Pululam como eternos escravos da mentosfera.


E quando, por acaso, escapam a tal ventura,
Chegando ao portal das metamorfoses,
Afluem ao sepulcro das indigentes mensagens insones.


Por não saber semantizar perfeitamente
O fluxo e o refluxo da crua realidade
Que ulceriza, alucina e tortura
A animosa, padecida prole da cavalgadura,
Guardo as poderosas palavras nas casamatas da teimosa utopia soturna.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A MESMA MÚSICA

Sou galáxias além da Via Láctea
Sou estrelas mais colossais e maiores que o sol
Sou um bólide-asteróide que transpassa Júpiter,
Soçobrando a vida pulsante qual habita o Planeta Azul.


Sou o vácuo que aumenta gritantemente
Pois as chagas e a opressão
Grassam e grelam
Sem precedentes, sem medida, sem padrão.


Sou um espectador inócuo, impotente,
Que olha, lugubremente,
A ganância edificar necrópoles
Para aqueles nascidos do sol da esperança.


Sou crepúsculos e auroras
Sou surpresas e alamedas erráticas
Sou brumas e luzernas
Sou um canto anônimo e estéril
Sonhando, incessantemente,
Com o dia que a luz da compreensão
Penetre-nos a retina da mente
E nos soçobre definitivamente
A fome pela magna quadra destrutiva:
A cobiça, o poder, a tirania, a supremacia!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

segunda-feira, 20 de julho de 2009

POEMICÍDIO

Comer o papel escrito denotativamente
É processá-lo usando a máquina do metabolismo
E o expelir do organismo,
Através do reto,
Para que aflua ao caminho dos demais dejetos.
Ah, com o perpasso do tempo,
Á mãe NATUREZA regressa
Como o fecundo adubo qual alimenta a terra.


Degustar as letras,
Metonimicamente,
É disparar a tinta:
Bala da ferina lufada de fricção
Ao verso dirigida.


Pranto do meu pranto
É quando o gosto do meu fel
planta e derrama
lágrimas da minha errância, culpa que sangra o réu!


Afinal,
Assassino o meu filho;
Assassino o fragmento mais querido da minha ilha;
Assassino minha lavra:
Dando cabo do meu poema
Pois, assim, aplaco a raiva.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O VERBO DA MALDADE

Pessoas que terraplenam a chama da vida
Não podem ser vistas como a mais horrenda alcateia;
São, ao contrário, guardiões da longeva luzerna.


Sandálias e Alpercatas
Quais, inexoravelmente, incineravam
--- com o seu vulcânico solado ---
As Cataratas que escudassem
A Flora da Liberdade


Não deveriam desfilar pelas passarelas da sabedoria e da bondade
Como paladinas da orgânica magia:
Isto por serem, na verdade, fanáticas discípulas
Da cavalaria do tirânico sofisma:
Templo da sádica, vil e infame vaidade, sujidade, vilania!


Ah,
Quando as Sandálias e Alpercatas
Evocam o desejo
De manhãs infinitas
Para a orgânica magia,
Estão, de fato,
Relembrando, com saudade,
Do tempo em que prosperava
O eco do império
Do Verbo da Maldade.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

KINGDOM OF BLUE STARS

Lá, pairando a fulgurar além da terra,
Além da Via Láctea,
Estão estrelas com uma envergadura
Que transcende abissalmente a magnitude do sol.


Lá,
O Astro Gerador da Vida Terrestre
Não chegaria sequer a coadjuvante ou a tangível figurante:
Seria um opaco treseunte sujeito a um ocaso
Inexorável e célere.


Lá, nós nem sequer cogitaríamos
Abraçar e nos apoderar da fonte da destruição,
Porque antes de existirmos,
A energia heliocêntrica já teria sido esmagada
Pela onipotência da azulina constelação.


Lá, não existiria
Poder, poetas, fauna, flora, oceanos, florestas;
Amores, rancores, jogos, atores, amantes, cônjuges
Nem corrupção!


Lá,
Somente estas estrelas
A reinarem soberanamente
Azuis.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 10 de julho de 2009

SINFONIA DA GUARDA DA ABERTA CAIXA DE PANDORA

Desnudam-se da pele
Da servidão ao escudo
Para destilar,
Livre e deliberadamente,
Peçonha e lufadas de chumbo


Que conduzem a hoste
De crisálidas, alvoradas,
Altas manhãs ensolaradas e do limiar
Da crepuscular tarde sábia
Á ávida bocarra
Da pérfida cova rasa.


Não,
Nem mesmo se apiedam
Do incauto repouso
Que, num quarto humilde,
Regozijadamente se hospeda:


A bem da verdade,
Como discípulos da humana miséria,
As sentinelas da Pátria da emoção desértica
Alimentam seus olhos de harpia ou hiena
Com o colírio da malévola quimera
E projetam, em tudo o que contemplam,
A paisagem da voragem, da tragédia!




Também vivem
Para dirigir
---- com mãos lascivas, ferinas, empedernidas, austeras, férreas -----
A operária orquestra
Das inebriantes Mandrágoras modernas.


Afinal,
A música da tortura
É executada:


O vírus da tristeza
Em direção ao povo
Sequiosamente se alastra,
Dando margem á era
Do contínuo desfile
Da fúnebre marcha.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A IGNOTA EQUAÇÃO HERMÉTICA DE UMA MATÉRIA

Ela não emite e nem absorve o galopar pujante e pungente
Da luz, da energia.
Ela vaga intangível pelo espaço:
Á revelia dos tradicionais dogmas
Da Gravidade, da Astro-Física.


Ela faz da incapacidade
De comprovar a sua existência
O seu éden abscondido:
O poder da altiva acuidade,
O poder da mais onipotente fortaleza,
O poder da mais sábia aquarela da insurgência,
A fluência da mais dinâmica cachoeira da móbil clareza,
A sageza daquela que é a mais inalcansavel cordilheira da transparência!


Ela aglomera estrelas:
Torna o lúgubre universo
Em cinéticos pontos de luminescência.


Ela, afinal, me espanta:
Trajada com a indumentária do anonimato,
Se comuta numa das forças
Que timoneram o sideral vácuo.





Ah, como quero fitá-la,
Degustá-la opticamente
E tangê-la no afagar da demora:
Abraçá-la, amá-la, sorvê-la,
Adquirir-lhe a virtude do contínuo voo
E segui-la esconsamente
Pela vastidão das galáxias,
Que, a granel,
Nascendo, medrando, morrendo,
Caminhando para o reino da unificação se vão.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 7 de julho de 2009

VIAGEM POR UM FLASH

Por um átimo eu saio:
Saio do templo de mim
Para degustar novas paisagens:
Paisagens que mostram
Naturezas mortas, vivas;
Egoístas, magnânimas, malévolas;
Ecletismos e aquarelas sem fim.


E, ao fazê-lo,
As pernas do meu pensamento
Singram alamedas, pontes, rodovias
Da beleza esconsa em cada esquina
Das múltiplas humanas vísceras.


Tais vísceras são heterogêneas ilhas:
Por isso penso-as
Opulentos jardins magníficos, putrefados,
Singelos, prosaicos, ordinários,
Rarefeitos, temperados
De surpresa e poesia.




Deixo-me eivar
Dos matizes da pungência de mazelas alheias:
Viro aidético e experimento
O acerbo sabor do desprezo;
Viro sertanejo e sinto-me presa
Das intempéries da seca,
Das promessas feitas pelos magos da falácia
Como também da eterna esperança acesa,
Que, no peito destes incríveis seres resignados,
Nunca se açaima, se tresmalha, se rende ao fogo do ocaso;
Assumo-me como negro que sou,
Permitindo que meu corpo seja envolto
Pelo manto danoso da aura da marginalização;
Assumo-me como índio que sou,
Sentindo o cultural genocídio varrer o meu chão;
Assumo-me como paralítico que sou,
Assistindo impotente á porta das oportunidades
Trancar-se por onde as rodas da minha cadeira vão;
Assumo-me como mulher, como idoso, como homo,
Como gordo, como um joão-ninguém,
Como uma pessoa fora do social padrão
E sou alvejado mortalmente pelo projétil da exclusão.


Afinal, regresso á minha velha rotina,
Impregnado do eflúvio da consciência
De que o mundo é feérico,
E o tornamos diariamente facínora e carrasco,
A mais dantesca mansão sangrenta!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

IMORREDOURO DA MENTE

Indelével é a sua face.
Indelével é o seu corpo, silente e calmo bólide caudaloso.
Indelével é o seu mosaical gesto:
Capcioso, modorrenta brisa alegre.
Nunca olvidarei da basáltica pele marrom-formiga.
Que temeridade pegar o metrô errado da vida:
O fogo é o monsenhor da perfídia, cria quimeras daninhas!
Agora, o que paira sobre a paisagem
É o frívolo nevoeiro do vão lamento:
Armar-se, como puder,
Contra o horizonte insidioso
É o único caminho que lhe cabe.
Sinto, não poderá lográ-lo:
Mesmo que o pudesse,
Quando conseguisse tocá-lo,
Ele mudaria de forma
E se revelaria caixa aberta de Pandora.
Enfim, você não pode ser acolhida
Nos braços do éden sonhado.
Todavia,
Não importa, não importa!
No meu horizonte,
Sempre terá lugar cativo.
Ah, no horizonte da mente,
Eu, diariamente,
A persigo! Persigo!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 4 de julho de 2009

VOICES WITHOUT FLOWER AND SUN

Sentado em uma das poltronas do meu ego,
Perscruto nuvens de breu do passado:
Elas são malgas densas
E corpulentos guarda-roupas de fel
Que se tornam febres de lancinação
Do remorso calcinante, cruel!


Então, assim trôpega e amargamente,
Ressingro a alameda
De meus execráveis erros:
Forço-me a ficar ante a torpe face
Dos eus nefandos cuja morada
Deita na crosta da minha pessoa hipócrita, nefasta!


Ah, e quando os contemplo,
Compreendo a real latitude do medo
Que impõe um semblante composto
Pelo nevoeiro de geleiras, êxtase
E sofreguidão por causar infinitos tormentos.


Ah, como quero o perdão
E o alento que minhas vítimas não tiveram.
Como me confortaria poder construir
Uma máquina do tempo
Para regressar á época dos meus tenros delitos:
Sustar-me a materialização dos atos dantescos
Quando, ao penetrar no universo da mente,
Afluísse ao reino do córtex,
Onde instalaria um vírus
Qual pusesse cobro
A germinação dos pensamentos
Malevolamente insanos.




Infelizmente, não posso retroagir no tempo.
Não posso eludir que o remorso irrompa
E vire metástase. Não posso. Por isso
Me transformo em infrenes cachoeiras de elegia e lamento!


Não tenho direito á flora das manhãs.
Não tenho direito á primavera
Cujo aroma pulula da concórdia.
Não tenho direito ao refrigério
Do mental divã que livremente flutua sobre o céu sem agrimensura.
Não tenho direito a verdade que repousa
Dentro do ventre da ametista
Onde se assenta o paraíso do Nirvana.




JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O HOMEM-BAÍA

Os sortilégios da Ondina equatorial sequestraram
O fluxo da vida de um homem.
Os sortilégios das sáfaras equatoriais
Guiam os passos da vida de um homem.
Os sortilégios que emanam da última Esmeralda equatorial
Norteiam a longa jornada de um homem.


Todavia, nesta odisseia,
Ele não está só:
Acompanham-no, não apenas irmãos de cumplicidade,
Mas, sobretudo, cativos.
Cativos da esperança de que floresça
O sol de comestíveis manhãs
Quando chegarem ao crepúsculo da marítima estrada!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A RESIGNADA PRESENÇA DA CHAMA

Sobre a imensurável alameda da memória,
Os passos da voz prosseguem a sua inabalável jornda
Conforme não houvessem fugido da minha humilde enseada:


Eles agem como se convergissem
Sofregamente á foz dos meus escombros
Para acalentar-me a viscosidade do sonho.


Luto, afinal, para me libertar
Dos grilhões do transe. No
Entanto, a rijeza dos sortilégios
Que lhe afloram dos verbos e do basáltico corpo
Descerram-me a porta do perene gozo.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 2 de julho de 2009

MOVIMENTO BRUTO

A cinética dos pratos manifesta-se
Por meio de uma energia externa,
Aparentemente, mantida incógnita
Pelo grande poeta da inépcia.


Observem como eles, os pratos,
Rebentos do reino do opaco,
Rodopiam impulsionados
Pelo inefável viço criptográfico.


Como rodopiam tais entes concretos:
É conforme se movessem
Empedernidos ao medo e aos dédalos do sombrio ego.


Ah, a impressão que me dá
É de que eles começam
Tal como se fossem
Bólides, raios, guepardos
E, ao voejar súbito de uma inesperada lufada-bálsamo,
Parassem paulatinamente:
Redendo-se, gradativamente,
Aos enlevos emanados
Do universo do portal do esgotável.




Ah,
Ao me pegar
Contemplando o desenrolar
Do processo do movimento,
Vejo que parecem ser guiados
Pela perpetuidade qual irrompe deste extático momento.


Contudo, eu denoto
Que a fugacidade soçobra o evo,
Contido na inércia do movimento:


Aí, o ritmo do rodopio
Cada vez mais arrefece
Até os levarem plenamente
Ao estado de estafa
Para os transformar
No mais suculento alimento
Que sacia a força estática.


Afinal,
Um tenaz pensar
Assola o cérebro
E molesta a língua:


Quem neles o movimento fomenta, hein?
Ah, amigos, qual mistério não há,
Porque os pratos são o objeto do desejo
Que obriga os dedos a movimentar
Os dois exemplares da matéria bruta
Até a lassidão plenamente taciturna reinar.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

CONSCIÊNCIA POLIFÓRMICA

Sou dois e outros vários homens
Sou três, e alguns poucos comem
Sou um musical quarteto sem cordas
Sou cem vidas mortas.


Sou trânsfuga do vírus do alheamento
Sou a tinta que dissemina e coagula o político discernimento
Sou o vórtice transformado em primavera
Sou a pedra que erige oceanos, montanhas e Amazônicas Florestas.


Sou o relógio que açaima o furor da pressa
Sou Pearl Jam, Led zapeling, Pink Floyd, Nirvana, Ciranda, Forró, Metálica
Sou a magia do Samba, da Seresta, do Blues, da Bossa, da Música Clássica.


Sou muitas gentes, versos, prosas
Sou a dor, a alegria, a voz chorosa
Sou, enfim, uma miríade de formas: paisagens amorfas!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

CRIANÇA-DESESPERANÇA

Sinais de trânsito
Consagram-se como a mansão do desespero:
Retina que projeta o pletórico curso
Dos oceanos desmesurados
Tal um caudaloso riacho
Áspero, egoísta, velhaco, avarento!


A nascente de um homem revoltado do amanhã
Aproxima-se dum carro,
Momentaneamente parado,
E pede uma esmola, um trocado
A um varão, quase ás portas da terceira idade,
O qual lhe responde negativamente
Como quem toma posse
Do semântico corpo duma troça,
Proferida por um palhaço insosso, idiota!



Ah, com efeito,
Quando regressar á sua moderna senzala,
Será recebido pelo lancinante e sádico abraço,
Dado pela frustrada materna senhora
Ou por seu irascível patriarca,
Forjados, quem sabe também,
Por um incessante ciclo
Da alijante navalha opressora da miséria:
Sempre a portar o vírus da avidez não contentada, a edace fera!


Ah, pobre menino medrado,
Que se tresmalha da vida.
Indivíduo púbere e opaco
Que não recebe o sol da honrosa alegria.
Jovem homem confinado num mundo
Onde o poder da voragem
É a sua única verdade e sina.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 30 de junho de 2009

SONHANDO VERSOS UNDERGROUND

Meus pensamentos fluem
Obliqua e obtusamente:
Sua natureza flerta
Com a tez da bruma
E com o reino da esguelha.


Meus pensamentos desejam ser
A porta aberta que guarda
A alameda da órbita
Onde reside os versos
Quais revelam os mistérios dos
Sítios subterrâneos da mente e da alma.


Meus pensamentos anseiam
Ser pavimentados pelo cimento
Da indignação por testemunharem,
Impotente e pungentemente,
O florescer de flagelos, Guantânamos,
Miragens de erudição, diamantes sanguinolentos,
Frondosas árvores da metropolitana velhacaria
E crisálidas crepusculando sob a ternura
Do descaso que emana do seio do átrio da antemanhã urbana.



Meus pensamentos são assim:
Querem ser versos
Que sejam o perfume da gente comum
Embora saibam-se cativos
Da frívola e tosca eloquência:
Vivenda da poesia vazia, vã!






Afinal, gostaria que meus pensamentos
Portassem o vírus da consciência underground
Para que pudessem extrair do cosmo alijado
A real noção da forma dos seres e das coisas
Por debaixo da derme fabricada.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 27 de junho de 2009

CINEMÁTICA DA LEMBRANÇA

Deambulo meu faminto olhar
Pelo infinito imaginário
Que se assenta sobre o quarto:


Paisagem do intrínseco relicário
---- cujo fluxo, pensava eu,
Encontrava-se definitivamente tresmalhado ----
Fecunda-me novamente o escalavrado ideário.


Aí, testemunho, vividamente,
Como se estivesse de corpo presente,
O embarque e desembarque dos entes
Quais, em algum momento,
Compartilharam o tropegar
Da mesma ambígua e longa estrada


Para, bem no meio do percurso,
Sem ultimatos, sutilezas nem prelúdios,
Fragmentarem-se em intangíveis córregos,
Congostas, vozes, brumas, arbustos e alamedas
De destino errático, eunuco:
A tremeluzente constelação
De sombras e incertezas que pavimenta o humano mundo.


E quando regresso da viagem
---- liberto dos sortilégios da embriagante miragem ----
Procuro, conforme fosse prisioneiro
Da sede de quem somente se sacia
Sorvendo sofregamente
O cristalino elementar liquido,
A mádida égide do caseiro abrigo.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O GIRASSOL TENAZ

A tirania esventra os hialinos horizontes
Do livre voar da prole do córtex:
Faz, hoje, uso do fuzil da latência,
Ancorado no trapiche do reino do povo,
Para açaimar o distinto lúcido coro.


Somos prisioneiros da matrix:
Não falo daquela controlada pelas cibernéticas máquinas,
Mas da matrix regida
Pelos intemperançosos vermes homo sapiens
Que ostentam a vil-metálica gravata.


Ah, no entanto,
Apesar de áridas e encarceradas
Na galáxia das esperas malogradas,
As mentes negam-se a parar de retesar o sonho
De que um dia finalmente
Se transformem no eternal reino de suntuosas águas cor de cristal.


Enfim,
Abrigadas confortavelmente no templo da certeza
De que um dia a liberdade florescerá
Para elas,
Enfrentam as intempéries do mundo
De cabeça erguida e com o olhar
De manhã infinitamente fazendo raiar o sol da primavera.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 25 de junho de 2009

COM O ONTEM AINDA DIURNO NA MEMÓRIA

Ouço barulho de mar ali ao longe:
Ele é a ressonância duma saudade insone.


O mar --- ao ler manhãs ---
Aquece sobejadamente a alma,
Por dissabores, desenganos, amargura, flagelos e chagas,
Integralmente lancinada.


As imagens que suscitam a extática contemplação
Orvalham um sinestético mosaico
De orgânicas paisagens,
Ancoradas no pleno afã de orgasmos da fascinação
Que residem na frenética dinâmica do ciclo dos indeléveis verões:


De fato, são esperanças que aguardam
Sequiosamente a exposição
Da indomável cinemática das águas,
Personificada pela contínua sessão
De onipotentes e radiosos vagalhões
Cuja rijeza açaima toda e qualquer sombra de acomodação.


Ouço barulho de mar ali ao longe:
Parece ser tão vívido, estar tão próximo
Que quase me transformo
Numa enlevante catarata de lágrimas incessantes:
Oceano fluindo sem represa nem paragem. É o
Sol do H2O selvagem qual irrompe da verve
Como aurora emocionada:
Aquântica órfã de agrimensura, de estremaduras,
De estafetas que portem, na fala,
O amor pela calorosa e balsâmica enseada.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A PROLE DA FÉ

Olhemos atentamente o que ostenta
A imagem transmitida pela tv:
No noticiário noctívago,
O cortejo trôpego da gente
De semblante sulcado, sofrido, álacre, lôbrego,
Mestiço, sôfrego, extasiado, sertanejo e íntegro
Faz ecoar seu religioso cântico
De celebração da vida.


Em cada um deles,
Templos da diáfana credulidade
Se edificam, prosperam,
Irrompem-lhes o DNA,
Cultivando novos jardins da cintilante flor amarela,
Tornando-se, enfim, o núcleo, o entorno
E o todo da sua orgânica matéria.


Por isso, quando quase exauridos,
Em seu dúctil ânimo,
Pelo perverso itinerário de chagas, desgraças e látegos,
Erigido por seu sinuoso fado,
Não optam por se entregar ao refrigerante vácuo,
Á reconfortante quietude infinita
Do prematuro ocaso;
Deixam, ao contrário,
Que a chama da crença
Dome e incendeie seu abstrato cosmo corpóreo,
Metamorfoseando-o no mais inexpugnável dos santuários!


No entanto,
Apesar dos sacerdotes ou zagais da mentira,
Dos paraísos ou oásis
Que segredam as perniciosas areias movediças,
A aura da esperança,
Encerrada no coração
Daquelas pessoas generosas, denodadas,
Transmite respeito, comove, cativa
Um centurião marxista.



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 23 de junho de 2009

REINO DEVOLUTO

Gradativamente,
Ela cria atmosferas ignescentes
Dentro do corpo:


As labaredas ganham massa,
Recrudescendo-me e grassando-me
Por toda a planície e ravinas do frágil organismo primata.


Sinto-a degustar-me a pele:
Á erupção do vulcão
Minha matéria converge.


Então sou sauna:
Doravante me converto
No ponto máximo de trilhões de fornalhas.


Com efeito, minha temperatura atinge 40 graus Celsius na escala:
Metamorfoseio-me na infrene tremedeira insaciada,
Sou, portanto, a voraz febre hemorrágica!


Assim, dali a pouco,
A urina, o excremento e o plasma prorrompem sôfregos
Do humano moribundo esqueleto carnoso.


Afinal um mar vermelho se forma, expandindo-se suntuosodomina, preenche toda a lacuna do íntimo cômodo
E deixa a vida sem gleba, latifúndio ou trono.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

OLARIA DA POESIA RAQUÍTICA

Fabrico toscos tijolos da Lírica:
Em seguida, monto o poema
Com toneladas do cimento
Da ferina lâmina dos sentimentos


Ou com a onipotente argamassa da líquida reflexão
(a sua concisa e basilar alvenaria).
Assim ---- ei-la, enfim ----
Como a mais eloquente desnutrição da poesia.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A COR DO VÁCUO

Como se contemplasse uma paisagem impalpável,
Testemunho recorrentemente
O ocaso e o desassossego dos sóis humanos:


Ainda hospedados na nave d’aurora;
A meio caminho do limite da estrada
Sombria, pérfida e sinuosa;
Dando passos cautelosos, breves
Sobre a obliqua corda bamba
Da falcifórmica alegria,
Cuja sina é ser o corpo
Que sempre tomba
Muito antes de chegar
Á fonte da água cristalina.


A mais pura verdade
É que a flor da inocência
Mal eclode, desabrocha, prospera;
Já sofre voz de prisão
E passa sua vida ----
Que, na gestação,
Emitia uma luz
Tão impávida, ígnea ---
Numa empedernida cela:
Solitária, sádica,
Faca a esventrar
Inclementemente
As vísceras da mental aquarela.



Ah, a onipotência da crueza
É uma força inexorável:
Ela desfila pelas passarelas da guerra;
Ela se alimenta de almas errantes, erráticas, crédulas;
Ela se tranforma continuamente
Nos habitacionais carcinomas da selva de pedra.


Ah, a miséria humana
Ah, a sede por vidas etéreas
Sôfrega e celeremente
Apodera-se da nossa chama e medra soberana.


E depois,
A paisagem do vácuo
É o que unicamente sobra:


Não há mente
Não há verve
Não há lembranças nem versos de protesto
E de paixão.


O que vive é um corpo:
Um corpo
Que não ama, não pensa.
Um corpo
Que não sente dor, desejo,
Brisa, luto ou tampouco saboreia a vida.


O que vive,
Finalmente,
É uma matéria
Que apenas anda
E ocupa lugar
Sob a imensidão
Da atmosfera da Terra.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 20 de junho de 2009

O SORO DO SERTÃO

Tanta é a fé:
Quão fundo é o drama.
Tamanha é a inclemência
Da chama do sol
Que, sobre a terra igneamente cálida,
Perenemente medra, se propaga,
Se agiganta e impera como tom maior, altissonante monarca:
A onipresente ressonância da hiperbólica nota máxima!


Facunda é a oração cancionada
Para que a benção da água verta,
Na forma de profusa derrama lacrimejada:
Miraculosa chuva caudalosa, corpulenta,
Sequiosa, faminta, gulosa, sedenta!


Tanta é a rijeza:
Tamanha é a crença
Na grandiloquência do poder qual se assenta
No opulento sólio do reino da reverberante oralidade da lenda.


Tantos são os passos
Á medida do quão numerosos se fazem os calos:
Tamanha é a esperança na colheita
De um auspicioso, magnânimo, benfazejo maná da cristã opulência.


Tão certamente crédula é a confiança em São José:
Quão visceral, vívida, viçosa
É a reza qual tecem os fiés junto a seu coeso e madeiroso par de pés
Que a secura sucumbe á incólume muralha da resistência
Da Animosa Gente Sertaneja.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A DANTESCA VIGÍLIA INTANGÍVEL

Há uma nuvem de sombra, de penumbra
Acompanhando e norteando os nossos passos:
Ela nos entuba a mente,
Ministrando-nos latentes doses cavalares
Da sua cara ordem ideal, formidável:
Onipotente, onipresente, sodômica, noturna
E opressivamente solar, diáfana, diurna,
Soturna, elegíaca, sepulcral, gótica,
Fimósica, femural, tumoral, plúmbea!


Há uma nuvem de sombra, de penumbra
Acompanhando e norteando os nossos passos:
Ela esventra e trucida
Qualquer célula que a enxergue,
Em sua forma legítima,
E faça os pensamentos
Lutarem pela perpétua
Soberania da sua vida ignotamente augusta:
Sim, esta, guarda a via proba, segura
Qual nos leva ao píncaro nirvânico da mente mais ígnea, lúcida
Cuja luz descerra o caminho para o sol da perspicaz ventania
Que é o opalítico céu da sabedoria cor de Ametista!



Há uma nuvem de sombra, de penumbra
Acompanhando e norteando os nossos passos:
Ela nos nutre, nos edifica
Uma ventura de anestésica servidão
Ás Pátrias que estupram e silenciam
A eloquente sinfonia onírica da estamental Simetria!



Há uma nuvem de sombra, de penumbra
Acompanhando e norteando os nossos passos:
Ela provoca a letargia vitalícia
Do sangue da Filosofia,
Corrente em nossas veias políticas
E anuncia o óbito
Da manancial dos autônomos sensos,
Compondo-lhe uma sarcástica,
Humilhante elegia, vil preito, música ferina:
Erudita baixaria! Baixaria! Baixaria!


Há uma nuvem de sombra, de penumbra
Dentro do templo do nosso crepúsculo:
Ela urina, defeca e dá gargalhadas
Sobre o nosso ideológico túmulo.


Há uma nuvem de sombra, de penumbra
Que esgarça, flagela, molesta, domina,
Insulta e, sádica, nos emprenha o mundo:
Sujeitando-nos á sua pérfida e sicária cria de sanguessugas.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

VIVENDA ONDE MORA O AFLUENTE DA REFLEXÃO

Subo e desço os degraus do pensamento:
Como que continuamente,
Canteiros de pressurosas palavras brotam-me na mente, ejaculam sentimentos.


E, quase imediatamente,
Acionam o campo onde prospera o cinético motor
Que compele as mãos
Á lírica escrita tropegamente cítrica, metálica, grave anemia
[Inanição


Um motim da consciência
Qual se levanta contra a peçonha da hipocrisia, da opressão.
Um olhar que se silencia ou se aniquila
Ante a cáustica saliva do solitário fado vão.


Sobre o píncaro da escada,
Vejo gente, manada, orquídeas, riachos, estios, dezembros, moringas, sertões
Fluírem e refluírem como marés, tristonho embarque-desembarque
Sezões]



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 16 de junho de 2009

O TESOURO DE UM INEPTO

O TESOURO DE UM INEPTO



Sobre as mãos da mente,
Tenho a certeza do naufrágio:
Setas que sigo me conduzem sempre
A uma miríade de barátrios.


Enquanto o otimismo materno
Sonha caminhos de êxito e halo,
Meu ente --- ciente do malogro como fado ---
Manda um email a meu ego,
Exigindo que ele ande
De mãos dadas com a humildade:
Desta seja devoto, fiel amante e cioso servo.


Tudo porque minha pessoa
Perfeitamente sabe
Que o vácuo jaz em mim qual DNA:
Residente em toda matéria viva,
Que habita o espaço solar.


Ah, almejo que um dia
Realmente vejam quem eu sou:
A suprema majestade dos mentecaptos...
O maior entre os náufragos...
A eternal aurora do fracasso!!!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

PLEONASMO DO POEMA-POESIA

O Poema é uma centelha
Concomitantemente
Conclamada e errática.


O Poema é a equação
Que habita o cérebro
Da nossa dualidade:
Pavimenta a alameda da emoção e da racionalidade.


O Poema é uma enigmática areia movediça:
Rebenta prenhe ou órfão de um intento
E trilha vias do alcácer das viroses dos abstratos, concretos tormentos
(sejam os frívolos dissabores, seja a dantesca
luminescência da bruma do quase aniquilamento),
Antes de se transmudar em monumento
Á Lógica, ao tornado dos vulcânicos sentimentos
Ou ao maremoto dos libertários devaneios.


O Poema é a aquarela
De um premeditado
Ou inesperado Estalo:


Nasce no córtex,
Navegando pelo
Oceano de teias e correntes da mente


Para, em seguida, desaguar sobre
O espaço vazio como palavra:
Quer Verso insalubre, amarelo, hospitalar, alegria flagelada;
Quer jucunda ventania, Poesia em estado de Graça!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 13 de junho de 2009

HEMORRAGIA DA ESPERANÇA

(INSPIRADO PELO FILME BAIXIO DAS BESTAS)


Mulher-coisa
Mulher á venda
Mulher-nada
Mulher com a sua dignidade sangrada
Mulher-carne
Mulher que anda sempre ao largo do direito á privacidade
Mulher alugada á alheia sofreguidão selvagem
Mulher-propriedade
Mulher-objeto
Mulher-sexo
Mulher sujeitada á tirania da demanda
Mulher expulsa do reino da álacre infância
Mulher que ostenta
No âmago do seu corpo
Melancolia, padecimento e o dolente desgosto
Mulher cativa
Mulher-menina
Menina-presa
Menina confinada no cárcere da violência
Menina que encerra
No seu taciturno pranto
Uma vida vazia de sonhos
Menina errante, errática:
Sem horizontes a seguir
Sobre a ponte da sua dura jornada
Menina que tem por horizonte
O sol de uma sina malograda
Menina que tem como guia, ventura e carma
O vitalício caminhar sobre o vácuo da estrada
Feminina, Menina, Mulher, Maná
Manhã, Alvo da Chaga, Comida da Sáfara!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

ZARPANDO PELAS MESMAS ÁGUAS

Nem chuva, nem bruma, nem sol:
Meu poema são as crianças
Que, com seus pais,
Acossados pela miséria,


Trabalham nas arcaicas fábricas
De carvão
Para que possam semear
Miragens de satisfação


Que ludibriem a fome
Enquanto demoradamente consomem
Uma raquítica nuvem de pão!


Meu poema, afinal, é acerbo:
Caminha abraçado
Á estrada dos versos baldios, estéreis arvoredos!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 12 de junho de 2009

POEMA AQUÉM DA POROSIDADE

Meu olhar queda retrátil
Quando sorvido pelo silêncio
Do pensar largo.


Meu fazer nem graceja:
Seu sorriso é cênico
E sorumbático: tem sabor de Mastruz com Carqueja!


Minha jocosa verve
Chora quando readquire
A tez, o sumo
Do deserto e do cabaço.


Então o poema
Nem sangra, nem mija, nem filma, nem escarra, nem voa,
Nem clama, nem ama, nem brame: viva a serenidade!
Nem irrompe lágrimas e nem é porosidade.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O PRANTO DA ESTRELA DE FOGO

O Sol, que nos ilumina
E magnanimamente nos vivifica,
Verte dos olhos oceanos da mais funda dolência:


As guerras e a busca por realeza suprema
Tornam mármore os homens. Oprimindo
A Natureza, transformam-Na no mais furioso Estadão equânime!


Monarca-mor dos estafetas
Da mais sábia e feérica Felicidade, Grandeza,
O Sol, Fonte da mais bela aventura inefável,
Lava as mãos da Piedade(não hipocritamente como Pilatos),
Deixando que a Mãe-Gaia expie a humanidade.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 9 de junho de 2009

A CINÉTICA DO INTANGÍVEL

Observo passos ao longe:
Na verdade, eu tão-só os escuto. Tenho
A forte impressão de parecerem bastante nitentes
Para o raio de ação da minha audição. No
Entanto, o manto da intangibilidade
Guarnece-os e os absconde
Sobre o ignoto píncaro do monte
Onde irrompe o inexpugnável horizonte.


Como que avidamente,
Fico querendo desvelar
Este hermético mistério, mas não consigo.
Em minha mente,
Vislumbro ordas de ladrões soturnos e escorregadios,
Sádicos seriais assassinos furtivos,
Rancorosos fantasmas:
Habitantes das minhas tenras
Eras lôbregas que me jazem,
Há muito, no memorial limbo.


De repente,
Como num passe de mágica,
Meu pensamento viaja:


Passeia sorumbaticamente
Pelas alamedas da tortura de Guantânamo e de Bagdá,
Do genocídio na plaga do Araguaia,
Pelas salas e celas escuras do DOPS.
Ainda, neste mesmo pungente passeio,
Contemplo um homem
Rosnar ferozmente contra a fronte da
Intencional morte. O nome dele...Vladimir Herzog!





Deparo-me com as feridas psicológicas de frei Tito:
Continuamente florescem e inexoravelmente
O lancinam, dando a luz a um facínora
Que lhe fala cruelmente ao ouvido.


Testemunho impotente e furioso
O condor da maldade,
Trajado sombriamente
Com seu riso malevolamente sutil,
Voar impune, gracejoso, cáustico, soberano:
Hipocritamente intrépido, varonil!


Contudo, é só a verve que se revolta:
Ela constata que a velhacaria
É o maior estandarte da espécie humana;
É a energia que movimenta a roda-viva
Da nossa odiosa invisível força.



Mas a chama do sol teima em fulgurar:
Talvez espere que um dia o povo
Saia do estado de animação suspensa
E reivindique o comando do mundo.


Ah, e a elite destronada,
Ao cair no abismo da desgraça,
Depreenda que uma vida de migalhas
Atenua a fome, porém também,
Erige o caminho para a emancipação
Do dragão confinado no âmago das massas.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O MIRANTE DO DESABROCHAR PRECOCE

Ao descerrar a janela do meu quarto,
Contemplo a paisagem do quintal de casa:
Compleição bucólica em que predomina
Uma atmosfera que cintila ao sol da manhã de crisálida.


Aqui, parece que a alvorada
Se despede mais cedo:
Entrega-se ao arrebate do fogo heliocêntrico
Quando o dia jaz ainda sob o aconchego do leito.


Passados alguns momentos de deslumbramento,
Acomodo um pouco meu olhar
Sobre a ventura da ótica
Que repousa na cama da urbana roça:


Meu par de olhos goza o contemplar
Das bananeiras, abacates, graviolas;
Mangas, mamões, limas, limões, laranjas, cenouras, abóboras;
Mandiocas, cocos, inhames, batatas-doces, acerolas!


No entanto, é o céu que me enleva e arrebata:
O albino azul que me afoga;
As nuvens pairando plácidas;
No ventre, posso vislumbrar a linha do horizonte e ás abóbadas agigantadas.


Afinal, ao regressar da dimensão do divagar,
Sinto-me como tivesse levitado
A bordo da nave do profundo pensar:
Agora, a poesia, em mim, eclode, recrudesce, é contínuo jorro de avatar!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quarta-feira, 3 de junho de 2009

DESCONSTRUÇÃO

Imerso no magnetismo do colchão,
Perco-me numa neblina de sonhos, miragens e vãs divagações.
Quando acordo,
Possuo apenas um poema


De índole vácua:
E sua teia é navalha
Que o corcel da mente escalavra,
Lancina e mata.


Seu legado é o soçobrar do fluído verbo.
Seu legado é a afasia do produtivo fazer poético.
Seu legado é a elisão do penetrante, sábio e facundo verso!


Assim, o que resta é um poetar sem eco, povo nem reflexo.
O que resta é um poetar sem alvenaria, alicerce, paredes e teto.
O que resta é um poetar com malária, chagásico, asceta, Acético!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 2 de junho de 2009

OS FILHOS DA AVE RENASCIDA DAS CINZAS

Fôssemos Gaia,
Mandávamos chuva pra elidir a secura.


Fôssemos Gaia,
fazíamos a partilha por igual das terras.


Fôssemos Gaia,
Não daixávamos o povo migrar do campo
Rumo ás favelas.


Fôssemos Gaia,
Tornávamos o Sertão
No mais caudaloso mar exuberante do Atlântico.


Fôssemos Gaia,
Retalhávamos os devotos da Nordestina Desgraça
Com a poderosa espada da comunal Democracia sintática.



Fôssemos Gaia,
Seríamos o sol que libertaria
A gente severina da sina de Andrômeda da miséria contínua
Da qual tantas vezes versara o Sol-Mor da popular Poesia:
O nosso querido Mestre Patativa!



Fôssemos Gaia,
Transformávamos a Nação moldada
Pela lírica Pedra e Pedrada
Na mais bela, fausta
Das oceânicas Águas.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

segunda-feira, 1 de junho de 2009

BAGAGEM, CREPÚSCULO E O DESCONHECIDO

Tenho cãs nos olhos:
A noção de fugacidade da vida
Arrebata-me pouco depois que saio
Do aminiótico aquário no qual, por meses, residira.


Guardo, dentro das narinas,
O eflúvio da fumaça assassina:
Meu olhar é tragado
Pela viscosa pemeabilidade


Que floresce das vielas
Onde mora o desdém á prosperidade dos desvalidos Girassóis:
Então, como não conseguissem germinar
Tal rebentos da via Láctea da igualitária ascensão,


Encontram, nos afagos
Que vicejam da moderna
Prole da pólvora,
A senda para segurarem o pólen do poder nas mãos.


Entretanto, este curto caminho
É insidioso, visceralmente ferino:
O êxtase que ele proporciona
Cobra o preço do prematuro e imorredouro abismo.



Ah, a sofreguidão e o afinco,
Com os quais se entregam estes artífices famintos,
Alimentam a fome dos dantescos barões da ignescência
Por novos edens da sangrenta opulência!


Trago lágrimas nos olhos:
Penso no quão dardejaria
A lactente constelação de estrelas
Se houvesse escapado da gula do desconhecido que cria a supernova egoísta.

ESQUADRINHANDO A INSÔNIA

Vagando por entre
Os subsolos da mente,
Percebo o quão virgem
É meu olhar sobre a cromática
De mim mesmo e do mundo:
Sim, quando se trata,
Principalmente,
Do seu viés subjacente
Qual aflora dos âmagos-pomos,
Responsáveis por fazer parir
O firmamento azul-escuro


Como se fosse tomado
Pelo arrebol do desejo
Do profundo descobrimento,
Eu descortino uma miríade
De relegadas paisagens,
Confinadas no calabouço
Dos livres pensamentos.


Então,
Ao penetrar na sua infinita e opulenta câmara,
Mergulho no mar do quase silêncio:


Uma vez dentro dele,
Contemplo a túnica da calma
Camuflar o lancinante drama
Que emana do vislumbre
Da imagem de pessoas
Á margem da alegre e jocosa aurora:
Apagadas á bala e com testemunhas mudas;
Ou agasalhadas pela frieza do relento
Cuja impiedosa fonte pulula da empedernida rua.


Uma vez dentro dele,
Fito, nitidamente,
A elisão da humanidade:


Mulheres e crianças
Sendo tratadas
Ou sobrevivendo
Como um suculento pedaço de carne.


Uma vez dentro dele,
Sinto o sabor acerbo do plasma
Que irrompe da mortífera
E cibernética prole da pólvora
E inunda toda a Inócua, Incauta, Prosaica, Pacífica Flama
Tapeçaria Meso-Asiática, Maometana!



Uma vez dentro dele,
Fixo o olhar
No mais profundo
Âmago de mim
E vejo a acre pele de desencanto
Ou sáfara exacerbada
Recobrir-me a aura.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

domingo, 31 de maio de 2009

CÉU ARTIFICIAL

Sob o teto de casa,
Fito o perpasso da vida:
Ora caminhando pela via
Da cromática sorumbática
Qual emana da íris pálida;
Ora deixando-se ficar imersa
Nas profundezas do mar da alacridade:
Esta a fluir caudalosamente
Pelos olhos e maçãs da face
Meditativamente ébria, errática aeronave!


A relação assimétrica
O cerne da mente invade:
Exeqüibilidade e a verve da vontade
Erigem a perniciosa consonância caótica, trágica
Que grassa, perfura, retalha
Como a mais afiada lâmina de navalha
Ou tal a vulcânica bomba detonada
Que faz da íntima pátria
A mais dantesca câmara mortuária.


Rancor e recomeço
Travam uma querela férrea
Que doma e flagela
As pradarias, plagas, malhas, cataratas
Da inconsútil e destemida alma.




No entanto,
Apesar da vigorosa órbita
De vórtices e tormentas,
A bem da verdade
É que a certeza
De um outro dia nascendo
Da retina do teimoso
Córtex brota. Fazendo
Brotar também a esperança
De que esteja próximo
O dia do logro da interior
Plena concórdia.


Afinal,
Sob o teto de casa,
Contemplo o perpasso da vida:
Paramento-me com estrelas-chagas
Quais amadurecem e dão a direção exata
Á minha visão temerária. Contudo,
Pouco cicatrizam: na verdade, exalam
O indelével perfume da mágoa
Cuja vivenda situa-se na minha
Agônica e baldia ermida cansada.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 30 de maio de 2009

QUARANDO O POEMA

Ao me deparar
Com o plasma que mancha a alegria da dignidade,
Doma-me a sequidão por um poema a bem da verdade.


Quando a recordação viscosa
Penetra e subjuga o DNA da memória,
Devassa-me a sede de fazer um poema na mesma hora.


Então minha pessoa converge ao mar
Do meu córtex, estando á procura da fonte:
Ideias hospedadas em mansões de nuvem
Tomam a forma da vérvica palavra
Que quara o poema para concluí-lo ao irromper das cinzas da alvorada.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A VÃ ESPERA POR SUNSHINE

A VÃ ESPERA POR SUNSHINE



Nascido do mármore
Nascido da pedra
Nascido do sáfaro beco
Nascido da guerra.


Nascido do caos e da ordem
Nascido da fome
Que semeia, molda, flagela
E alimenta os sonhos da humanidade insone.


Nascido da lápide sem nome
Nascido dos vaga-lumes que tremeluzem
Nascido da fauna pusilânime
Nascido do anonimato do sangue.


Nascido do vento da hanseniásica calma
Nascido das chagas
Nascido do orvalho
Que refrigera os habitantes das contemporâneas cubatas.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

TROVA CONTINUADA

Nascido da clorofila prestes a ser castrada
Nascido da pletórica Era oxigenadamente gaseificada
Nascido do Planeta que sangra e ameaça
Dar cabo prematuro ao caminhar de crisálida da Primata Jornada.


Nascido do galope acerbo do tempo
Nascido dos sulcos, ravinas, pradarias e vilarejos do vulcânico medo
Nascido do coibitivo senso
De não poder vivenciar intensamente a volúpia do momento.


Nascido das náufragas olarias do vérvico pensamento
Nascido do sepulcral ostracismo das enseadas do cálido sentimento
Nascido das hecatombes radioativas que tornam Ametistas em brumas de espectro
Ceifando e assoreando os jocosos poros do contentamento.


Nascido das banalizadas chacinas citadinas
Nascido da viagem, do barato, da carcinômica larica
Nascido da sina de ser cativo e sentinelas da nitroglicerina.
Nascido da menina que espera por sunshine no cais e na esquina da vida.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O DESTERRO DA POÉTICA PALAVRA

O poema confina-me a mente:
Suscitando-me a fazer viagens
Ao éden da descoberta
Ou para a obliqua paisagem da nula sondagem.


Quando o naufrágio é o compulsório itinerário,
Faz-se vã a cinemática de ardis e subterfúgios-pássaros:
Ainda que o meu conhecimento passe deveras ao largo,
Domina-me os pensamentos a voz do sol do fracasso.


Sinto a sinestese do desconsolo
Emanar-me do córtex,
Afluindo e copulando os poros
A fim de que possa infectar
Todos os vãos-átomos do meu corpo sorumbaticamente apático.


Depois, o que me sobra é a febre, a hemorragia do regozijo sonhado,
O sádico segredo, o etéreo cansaço:
A fragrância de vácuo, enfado, maresia, abismo, ataúde e ferrugem
Põe um véu de energia estática
Sobre a massa encefálica,


Deixando o sabor de azedume
Prostrado na língua, na lúgubre arcada dentária
De quem --- assim como yo ---
Não entende nem aprisiona
A semântica do predicado
Da poesia elementar, plástica, mineral, harmoniosa
Que aflora do voo das garças, falcões, corujas,
Albatrozes, águias, gaviões, Gaivotas!



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quarta-feira, 27 de maio de 2009

VIAGEM AO CENTRO DO MEU CORAÇÃO

O quão gostaria de ser indiferente
Ao meu coração Atlântico e masoquista:
Emotiva tempestade oceânica
Que me domina, deixando


A temeridade ganhar substância
Para depois, de maneira imperativa,
Singrar toda a estrada da minha sina
Como se fosse a inexorável, vampírica
Csarina, A Grande Catarina!


Conforme uma febre irascível, raivosa,
O passionalismo, em mim, aflora:
Portanto, os assentes pilares da prudência
Comutam-se na mais moribunda geleira.


Assim, ao simples desabrochar
Dos olhos da aurora,
A sensatez cai morta
E descerra as comportas
Para a plena vazão
Da vontade indômita, furiosa!


Então, levianamente,
As palavras pululam
Do cérebro, convergindo
Célere e torrencialmente
Á malograda boca, impertinente.







A sinceridade dá o tom da retórica:
Os vocábulos grossa e sumariamente quedam
Tal um toró de chuva
Que rebenta do celeste ventre
Da soteroplitana primavera.


Afinal
Falo quando ela declara
Seu amor a outrem:


Sim, infelizmente,
Foi no momento adverso
Que os meus lábios de epicédio
Abriram o gás do verbo.




JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 26 de maio de 2009

PAISAGEM SEM PLUMAS

Sinto o olor de uma matilha no encalço do Girassol:
A sequidão por soçobrá-lo é tamanha
Que a canina imagem faminta e ferina
Qual se forma na fonte da minha espiritual retina,
Apesar de intangível por a saber ainda bem longínqua,
Penetra-me na verve como dantesco voraz raio-trovão
E me lancina atrozmente a razão.


No entanto,
O Girassol está completamente despido do medo:
Ele espera os seus algozes belicosos, morteiros
Tal como se estivesse dormindo calmamente
Sob o aconchego da transparente armadura lúcida,
Reino da fleuma, da sabedoria, do candor e da bravura.


Então começo a crer
Que a hoste dos sóis
Da Resistência Desarmada
Estava envolta pelo manto
Desta balsâmica e benfazeja aura
Ao encarar a fronte vociferante
Dos promotores malévolos da dama Caetana Sorte.


Ás vezes,
Sou acometido de uma forte impressão:
A impressão de que os entes
Que trazem sobre o semblante
Estes predicados do solar sereno horizonte
Não morrem quando recebem o derradeiro golpe;
Antes, sofrem uma poderosa metamorfose:
De outros corpos mentais tomam posse,
Fazendo pulular jardins do iluminado Girassol
Por toda parte.


Afinal, eu reflito:
Mesmo que a matilha de cães famintos
Alcance e trucide o Girassol,
Sua prole --- tão lauta e prolífica ---
Há de nos alimentar o corpo,
A derme, o córtex, o coração:
Sempre resplandecente e nada inerte, o crepúsculo do olhar vão!


Portanto o Girassol concebe o mundo
Conforme os olhos de quem contempla
A paisagem mais límpida, cristalina:
Sem as plumas da obtuosidade, da dúvida
E da bruma da obliqua indulgência soturna.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

PALAVRAS DA NOITE

Todo dia quando a noite me emprenha,
Ouço vozes murmuradas
Bradarem-me por socorro dentro da cabeça estupefata:


Em verdade, são sonhos de uma humanidade
Linear, congraçável, sábia, senhora da equânime magnanimidade,
Que se dirimem ao dinâmico perpasso das marmóreas cidades.


Aí, o que tão-somente remanesce
É o amargo sabor da ferina frustração sádica
Qual ostenta um voraz sorriso de limalha.
Enfim sobra apenas o sol da liberdade
Esvaindo-se em Hipernova: Fantasmagórica Paisagem!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O ALCANCE DO OLHAR

Olho o olhar de quem chora.
Olho o olhar de quem despreza.
Olho o olhar acuidoso do corvo.
Olho o olhar ferino da fera!


Olho o olhar de quem brame.
Olho o olhar de quem geme.
Olho o olhar de desespero das africanas crianças.
Olho o olhar do sangue que derrama cotidianas vidas inocentes!


Olho o olhar de banzo das florestas.
Olho o olhar jocosamente lúgubre das favelas.
Olho o olhar de preconceito e orgulho
Da prole que é fruto da biológica brasileira Aquarela!


Olho o olhar de quem é bravura.
Olho o olhar de quem peleja.
Olho o olhar de quem tem a dignidade e a labuta
Como a sua genética Bandeira!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

CANTO DO SER SEM AURORA E ALVORADA

Um rio agônico que deságua
O ocaso emanando dos moribundos olhos que derramam lágrimas
A cordilheira que se metamorfoseia em cinzas de montanha
A espera impressa e circunscrita na hirta parede da lembrança
O estro que tomba ante o eclipse total da esperança
A criança que dorme, morre e não sonha
O bardo que é maninho pasto, desrepasto, marasmo, secura, insônia
Insânia!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

segunda-feira, 25 de maio de 2009

APRENDIZ DE DIVAGAÇÕES

O teto, acima de mim,
Jaz sólido:
Ainda sim,
Transidamente,
Eu o olho.


Escalavrado pela impotência,
Pelo vácuo, pelo tédio
De afluirmos,
Deliberadamente,
Ao estuário da vida,
Deixo-me domar
Pelo sobrepujante cavalgar
Do heliocentrismo da elegia.


Pesarosas lágrimas silentes
E invisíveis rolam-me
Por sobre a epiderme:


Crianças ao bel-prazer
Do ódio como agasalho
Da devoluta alma,
Devoluta pele e osso,
Devoluta mente,
Devoluto corpo
Sorvem a seiva da ira
Contra o Éden misericordioso.



A eloquente voz de um homem
Esculpe, esmerila e grita
A oração: --- Sim, nós podemos, irmãos!


No entanto,
Será que esta sentença
Ganhará eco de materialização
No reino, hein, das vis-metais mentes e preconceituosos corações?



Não,
Tal convicção não acalenta
Meu escaldado ente-razão,
Mesmo quando agora
O contemplo segurando,
Firmemente, o poderoso cetro
Que norteia o rebanho
Das extáticas cabeças
Que, pelo obliquo caminho, vão.


Na verdade,
O que, cotidianamente,
Vejo é a construção
--- cada vez mais célere ---
De megalópoles quatro palmos
Abaixo do chão.


Na verdade,
O que, cotidianamente,
Vejo são vales de incauto sangue derramado
Regozijarem os galhardos iconoclastas
Da sábia vida prolífica:
O escárnio á longevidade da sua celebração, sua mádida magia!






Testemunho
Querelas que libam,
Avidamente,
O vinho da ganância por poder
Abrir sulcos e crateras
Na mansão do nosso altruísmo.


Testemunho
O gradiente do egoísmo e da maldade
Açambarcar-se, avolumar-se,
Caminhar de mãos dadas com a ubiquidade,
Tornar-se loquacidade, astuto
E voraz canibalismo onipotente:
O arrebate do arrebol da crueldade iminente e a corrosão selvagem,
Chama alimentando a sequidão leviana, alarve
Qual ansiosamente se encontra
Ás portas do sol que liberta
A aura da universal supernova hecatômbica, fúnebre, funesta!


Enfim,
O teto, acima de mim,
Jaz sólido:
Contudo o liquefaço
Com o lume dos pensamentos
Que emana da íris dos meus olhos opacos.


Sim,
Contemplo, como se estivesse
Confinado numa câmara
Hermeticamente fechada,
A insensibilidade degustar-nos
Incomensuravelmente deleitada.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A ESPORÁDICA MAJESTADE DO INCOMUM

Há dias que a retina não controla
A projeção de imagens.
Há dias que a urina infunde
Á leve menção do simples laivo da vontade.
Há dias que a doce e inócua brisa
Escalavra cruelmente a face.
Há dias que a noite
É contínua manhã incólume: a aderente Paisagem!
Há dias que a Escuridão é a alameda
Onde reside a foz de toda a universal verdade.
Há dias que o dia
Aparenta ser fluxos e refluxos de miragem.
Há dias que o Poema
É o mais etéreo plenilúnio da Vacuidade
Há dias que a latitude e a lembrança
São o mais edaz epicentro da saudade.
Há dias que o ser concreto
São os sortilégios de Mérlin, Iemanjá,
Baco, Amon-Rá e o Hades.
Há dias que o Poeta
É corpo sem Verve, a terra sem Verbo: A Vácua Viagem!
Há dias que a guerra
Sucumbe ao sopro do vento da Amizade.
Há dias que a Porta
Não é uma mera passagem.
Há dias que o sofrido povo
Não é miríade e sim, O Principal Personagem.
Há dias que a Poesia sonha
O sonho de ser o Graal da IGUALDADE!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

ÁRIA PARA O VÁCUO

E este claro mar pênsil que diariamente se descortina
E esta frondosa floresta de utopias
Que se converte em Saara, Chernobyl, a Caatinga da Rima...


E esta água refracionda
Que não logra nem cala
O perigo de extinção da vida...


E estas infinitas rajadas de bala
Que irrompem do cano da pistola
Carcomendo irremediavelmente a sina meio madura ou crisálida
De quem morre assassinado, de quem mata...


E esta couraça que não se refrata
E este rio de lágrimas que não quara
E esta felicidade em coma
Que é o mais querido rebento da morte anunciada:
O Sarcófago da Alma de quem sonha...!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

ENTRE ALGUM LUGAR(ODE A WALLY SALOMÃO)

Vérvico galopar
Entre o poroso e o hermético:
Sua mente flui, reflui
Pelas alamedas, ribanceiras
Cordilheiras do Clássico,
Do Moderno e pare, assim,
Um Autêntico Contemporâneo


Fazer Poético
Cosmopolita, Latinoamericano,
Brasileiro, Nordestino, Baiano,
Plenitude do Universo retroagindo-se e se açambarcando!


Seu verso cavalga
Pela estrada da reflexiva,
Filosófica, sonora,
Jocosa, prosódica,
Culta, dionisíaca,
Difusa, diáfana,
Ferina, aquática, sábia,
Copiosa, prolífica, ígnea,
Reta,
Obliqua,
Acuidosa,
Expedita,
Gostosa,
Dúctil,
Livre,
Liberta,
Libertina,
Geral Geleia,
Gelatina,
Eclética,
Ladina Metalinguagem.


Seu poetar codifica e decodifica
A Metalinguagem.
Seu poetar
Penetra e ejacula a Metalinguagem.



Seu poetar
É a Metalinguagem
Que vocifera
Contra a lepra qual acomete e devassa a emoção
E contra o vírus
Da hipocrisia, da miséria, da vácua poetização!


Seu poetar
É a Metalinguagem
Que afaga, fecunda e soca
A janela da intimidade:
Expondo eloquentes aquarelas
Da introspectiva realidade.


Seu poetar
É a Metalinguagem
Que rompe e carcome
O indestrutível cadeado
Das senzalas da Palavra.


Seu poetar
É a Metalinguagem
Que descabaça
O vapor barato


Pois o falo que a aparelha
É verbo nascido
Do ventre do fogo e do aço.



Seu poetar
Alimenta-se
Da molécula
Que fabrica
A Metalinguagem:


Ele bebe a água da Metalinguagem.
Ele come a carne da Metalinguagem.
Ele assume a pelagem e a identidade da Metalinguagem.
Ele é a própria Metalinguagem, na verdade!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A ÓRBITA DA INSANIDADE

ELA, QUANDO NÃO SEMEIA JARDINS DE FENECIMENTO,
MUTILA, CARCOME E SOÇOBRA
A CAPACIDADE DE SONHAR:
SER O ETÉREO VENTO
QUE TRILHA, INCANÇAVELMENTE,
A ALAMEDA DO SERENO SOL DA AURORA,
DA VIDA RECRUDESCENDO.


ELA
ERIGE VÓRTICES, VAGAS, VAGALHÕES
PARA QUEBRANTAR E DEBILITAR
A INÉRCIA DOS MOVIMENTOS IMPÁVIDOS:
TRANSFORMA-A EM FISSÕES, VIDROS,
NAUFRÁGIOS, ANDRAJOS, BALA
QUE CONDUZ A ALEGRIA
AO SEPULCRO DA CONCÓRDIA, DA RAZÃO E DA EMOÇÃO:
AVENIDAS QUE PAVIMENTAM
O CÓSMICO MOSTRUÁRIO MORTUÁRIO
DA RAQUÍTICA SEQUIDÃO!


ELA DERRAMA ORVALHOS DE DUREZA
SOBRE A VIDA DAS PESSOAS:
A SENSIBILIDADE É VITIMADA PELA LEPRA,
TRANSMUDANDO SUAS ALMAS
EM INERTES MATÉRIAS.


ELA, AFINAL,
TRIUNFA E SUA SOBERBA
SE TORNA PLENA, UNA, ONIPOTENTE TEMPLO DE VILEZAS!




ENTÃO O SOL DO ALTRUÍSMO
SE FAZ PLENILÚNIO DO VÁCUO,
E DAS PESSOAS SÓ SOBRA
O IMPÉRIO DE DESTROÇOS, TRISTEZAS, ÓDIO RETESADO!


AH, AFINAL,
A RIQUEZA DO TECIDO DA VIDA
CEDE Á RAREFAÇÃO:
O TORNADO QUE ROÇAGAVA
OS POROS DA PELE COMO BRISA;
AGORA É DENSA SECURA, INCLEMENTE ARDÊNCIA,
A OSTENTAÇÃO DA MALÉVOLA LOUCURA,
A GRADAÇÃO DO VÉRVICO SERTÃO
QUE EMITE FOGO DA BOCA, DAS VÍSCERAS,
DO VENTRE, DAS VEIAS, DAS VENTAS!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A JORNADA PARA O HAVEN DO NIILISMO

Rastros de manhã perdida
Pavimentam o caminho:
Sinto --- no gozo que não se torna exequível ---
O naufrágio dos oníricos sentidos.


Em seguida, como se entrasse o Equilíbrio
Num definitivo estado de suspensão,
A Balança de Libra pende
Para o indômito viés da fúria


Muda e eunuca
Uma vez que as pessoas que sonham horizontais mudanças
---- a concórdia, o amor, a isonomia, a livre consonância ---
Não podem desarmar a bomba atômica


Da Aids da barbárie cotidiana
Que traga o soro da vida,
Deixando a herança dantesca das alamedas da alma sombria
Qual habita a mansão da marmórea insânia vitalícia.


Enquanto este baldio poema exaro,
As engrenagens da avara riqueza de rosto velhaco
Sorvem sôfregas o tecido conjuntivo
Dos oceanos cancerados por flagelos, cansaço e pela alvenaria do vazio.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

IMITAÇÃO DE UM QUASE SONETO PSICODÉLICO

O cérebro anseia, engendra ideias
As ideias erigem as mentosféricas alvenarias da palavra
A palavra, na forma de oração absoluta, composta,
Amada cria cálida da galáxia sintática,
Quer ser escrita e virar a perpétua trova reverberada.


O corpo almeja-se fundir ao cansaço:
A mente que açaima o viço do obstáculo
Sonha gravitar pela órbita
Onde habita o insone lírico perpasso.


Deleito-me com a refulgência que urina em cima da verve puritana, avara
Testemunho a decência que cede ao escárnio
A política é um grandiloquente panegírico ao parasítico e vampírico Teatro.


E esta poesia de hemorróidas, de placebo, de chacina da alegria
E esta chaga chapada, pustulenta na qual a dor nunca definha
E esta coriza que não cessa de verter-me das congestionadas narinas...



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O SIGNO DA MARGEM

Caminho sobre a margem
Caminho sob a margem
Caminho transversalmente á margem
Caminho á margm da serra
Caminho á margem da pedra
Caminho á margem da floresta
Caminho á margem da égide contra a fera
Caminho ás margens da vala prenhe de merdas
Caminho ás margens da selva de pedra
Caminho á margem da magia do vento
Caminho á margem das colinas do tempo
Caminho á margem do Pégaso dos pensamentos
Caminho ás margens de quem semeia o sofrimento
Caminho á margem da maré
Caminho ás margens da prole da prolífica Política-Ralé
Caminho ás margens da Bélica Luxúria
Caminho ás margens do Genocídio de Inocentes e Cândidas Criaturas
Caminho ás margens do Magnânimo Irmão sem Moral e Candura
Caminho á margem da água cristalina
Caminho ás margens das Aves de Rapina
Caminho á margem da ilha Ametista
Caminho á margem da Chapada Diamantina
Caminho á margem da Espiral Suicida
Caminho á margem da vida sabor Tangerina
Caminho á margem da Fidedigna Libra
Caminho á margem do Dia que germine a Pátria Palestina
Caminho á margem da Era em que reine a Flora qual açaima o ódio
E a aura da boca apazigua]
Caminho á margem e ás margens de independentes mulheres, meninas
Caminho á margem de quando Nós não mais seremos gente cativa
Caminho á margem do topo das montanhas
Caminho á margem do arrebol da esperança
Caminho á margem do arrebate da chama da vingança
Caminho á margem das cercanias da memória
Caminho á margem do coração d’alma
Caminho ás margens e á margem do Poder da História
Caminho ás margens do vírus do sofisma
Caminho ás margens da epidemia da ira
Caminho á margem da imunidade ás areias movediças
Caminho á margem do refúgio que nos protege das sacerdotisas da morte
Caminho ás margens da senda que conduz os agônicos até as necrópoles
Caminho ás margens da aragem
Caminho ás margens do túmulo da tarde
Caminho ás margens do oceano das metástases
Caminho á margem do templo da verdade
Caminho á margem da miragem
Caminho á margem da consciência do ego de minhas ferragens
Caminho á margem do lúgubre carma que a verve invade
Caminho á margem das estrelas
Caminho á margem do límpido Poema
Caminho á margem da margem, entenda


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O CERÂMICO GUARDADOR DE PAISAGENS NORDESTINAS

(EM MEMÓRIA DE MESTRE VITALINO)

Um grande homem do povo,
Semente nascida da acre terra bucólica,
Floresce, novamente, ao ser preso
Pelas malhas do sortilégio da cerâmica:
Opulento universo da prolífica verve prodigiosa, epifânica!


Da carne desta mágica argila,
Pulula um cosmo
Que dá loquacidade, eloquência, garbo e encanto
Á estóica vida no nordestino campo:


Os carros de bois em caravana;
A contenda dos amantes conjugais
No exíguo aconchego da sua adôbica cabana;
Os cangaceiros paramentados
Como a realeza do fogo sepulcral;
A Igreja, o santuário da fé imortal;
A gente sofrida, templo da incansável esperança!
Afinal a humilde nação do semi-arido:
Reino dos sábios gigantes,
Forjados pelo metal do contínuo drama insuplantável;
A serena gana de ter direito á vida. Esta gana os agiganta,
Torna-os a indelével chama magnífica!


E então, o artífice
Á rude paisagem sublima:
O olor do cotidiano da faina campestre
Se eterniza, eiva a mente e a visão
Dos presunçosos ignaros
Que desdenham a grandeza
Da laboriosa estirpe do Nordestino Sertão:
Incessante florescência da animosa
Flora tenaz, incarcomível, insoçobrável!



Ah, maestria, ah vitalidade!
Vitalina é a centelha
Que lhe alimenta
A frondosa árvore da criatividade.




Ah, etéreo mago fantástico!
Ah, genial alquimista do barro!
Sua mente, na verdade,
É um cinético vulcão de avatar
Que, ao entrar em erupção,
Transforma o deserto da nossa visão
Em verdejantes bosques de sensibilidade e lirismo.
Enfim, tocados por sua mágica,
Começamos a contemplar a beleza
Cujo perfume, que aprisiona
O organismo, o corpo, a retina e a órbita
Do palato, da audição e do olfato dos olhos,
Molda, norteia e afaga
Os passos da prole do éden da sáfara.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA