BLOGGERAL

domingo, 31 de maio de 2009

CÉU ARTIFICIAL

Sob o teto de casa,
Fito o perpasso da vida:
Ora caminhando pela via
Da cromática sorumbática
Qual emana da íris pálida;
Ora deixando-se ficar imersa
Nas profundezas do mar da alacridade:
Esta a fluir caudalosamente
Pelos olhos e maçãs da face
Meditativamente ébria, errática aeronave!


A relação assimétrica
O cerne da mente invade:
Exeqüibilidade e a verve da vontade
Erigem a perniciosa consonância caótica, trágica
Que grassa, perfura, retalha
Como a mais afiada lâmina de navalha
Ou tal a vulcânica bomba detonada
Que faz da íntima pátria
A mais dantesca câmara mortuária.


Rancor e recomeço
Travam uma querela férrea
Que doma e flagela
As pradarias, plagas, malhas, cataratas
Da inconsútil e destemida alma.




No entanto,
Apesar da vigorosa órbita
De vórtices e tormentas,
A bem da verdade
É que a certeza
De um outro dia nascendo
Da retina do teimoso
Córtex brota. Fazendo
Brotar também a esperança
De que esteja próximo
O dia do logro da interior
Plena concórdia.


Afinal,
Sob o teto de casa,
Contemplo o perpasso da vida:
Paramento-me com estrelas-chagas
Quais amadurecem e dão a direção exata
Á minha visão temerária. Contudo,
Pouco cicatrizam: na verdade, exalam
O indelével perfume da mágoa
Cuja vivenda situa-se na minha
Agônica e baldia ermida cansada.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 30 de maio de 2009

QUARANDO O POEMA

Ao me deparar
Com o plasma que mancha a alegria da dignidade,
Doma-me a sequidão por um poema a bem da verdade.


Quando a recordação viscosa
Penetra e subjuga o DNA da memória,
Devassa-me a sede de fazer um poema na mesma hora.


Então minha pessoa converge ao mar
Do meu córtex, estando á procura da fonte:
Ideias hospedadas em mansões de nuvem
Tomam a forma da vérvica palavra
Que quara o poema para concluí-lo ao irromper das cinzas da alvorada.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A VÃ ESPERA POR SUNSHINE

A VÃ ESPERA POR SUNSHINE



Nascido do mármore
Nascido da pedra
Nascido do sáfaro beco
Nascido da guerra.


Nascido do caos e da ordem
Nascido da fome
Que semeia, molda, flagela
E alimenta os sonhos da humanidade insone.


Nascido da lápide sem nome
Nascido dos vaga-lumes que tremeluzem
Nascido da fauna pusilânime
Nascido do anonimato do sangue.


Nascido do vento da hanseniásica calma
Nascido das chagas
Nascido do orvalho
Que refrigera os habitantes das contemporâneas cubatas.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

TROVA CONTINUADA

Nascido da clorofila prestes a ser castrada
Nascido da pletórica Era oxigenadamente gaseificada
Nascido do Planeta que sangra e ameaça
Dar cabo prematuro ao caminhar de crisálida da Primata Jornada.


Nascido do galope acerbo do tempo
Nascido dos sulcos, ravinas, pradarias e vilarejos do vulcânico medo
Nascido do coibitivo senso
De não poder vivenciar intensamente a volúpia do momento.


Nascido das náufragas olarias do vérvico pensamento
Nascido do sepulcral ostracismo das enseadas do cálido sentimento
Nascido das hecatombes radioativas que tornam Ametistas em brumas de espectro
Ceifando e assoreando os jocosos poros do contentamento.


Nascido das banalizadas chacinas citadinas
Nascido da viagem, do barato, da carcinômica larica
Nascido da sina de ser cativo e sentinelas da nitroglicerina.
Nascido da menina que espera por sunshine no cais e na esquina da vida.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O DESTERRO DA POÉTICA PALAVRA

O poema confina-me a mente:
Suscitando-me a fazer viagens
Ao éden da descoberta
Ou para a obliqua paisagem da nula sondagem.


Quando o naufrágio é o compulsório itinerário,
Faz-se vã a cinemática de ardis e subterfúgios-pássaros:
Ainda que o meu conhecimento passe deveras ao largo,
Domina-me os pensamentos a voz do sol do fracasso.


Sinto a sinestese do desconsolo
Emanar-me do córtex,
Afluindo e copulando os poros
A fim de que possa infectar
Todos os vãos-átomos do meu corpo sorumbaticamente apático.


Depois, o que me sobra é a febre, a hemorragia do regozijo sonhado,
O sádico segredo, o etéreo cansaço:
A fragrância de vácuo, enfado, maresia, abismo, ataúde e ferrugem
Põe um véu de energia estática
Sobre a massa encefálica,


Deixando o sabor de azedume
Prostrado na língua, na lúgubre arcada dentária
De quem --- assim como yo ---
Não entende nem aprisiona
A semântica do predicado
Da poesia elementar, plástica, mineral, harmoniosa
Que aflora do voo das garças, falcões, corujas,
Albatrozes, águias, gaviões, Gaivotas!



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quarta-feira, 27 de maio de 2009

VIAGEM AO CENTRO DO MEU CORAÇÃO

O quão gostaria de ser indiferente
Ao meu coração Atlântico e masoquista:
Emotiva tempestade oceânica
Que me domina, deixando


A temeridade ganhar substância
Para depois, de maneira imperativa,
Singrar toda a estrada da minha sina
Como se fosse a inexorável, vampírica
Csarina, A Grande Catarina!


Conforme uma febre irascível, raivosa,
O passionalismo, em mim, aflora:
Portanto, os assentes pilares da prudência
Comutam-se na mais moribunda geleira.


Assim, ao simples desabrochar
Dos olhos da aurora,
A sensatez cai morta
E descerra as comportas
Para a plena vazão
Da vontade indômita, furiosa!


Então, levianamente,
As palavras pululam
Do cérebro, convergindo
Célere e torrencialmente
Á malograda boca, impertinente.







A sinceridade dá o tom da retórica:
Os vocábulos grossa e sumariamente quedam
Tal um toró de chuva
Que rebenta do celeste ventre
Da soteroplitana primavera.


Afinal
Falo quando ela declara
Seu amor a outrem:


Sim, infelizmente,
Foi no momento adverso
Que os meus lábios de epicédio
Abriram o gás do verbo.




JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 26 de maio de 2009

PAISAGEM SEM PLUMAS

Sinto o olor de uma matilha no encalço do Girassol:
A sequidão por soçobrá-lo é tamanha
Que a canina imagem faminta e ferina
Qual se forma na fonte da minha espiritual retina,
Apesar de intangível por a saber ainda bem longínqua,
Penetra-me na verve como dantesco voraz raio-trovão
E me lancina atrozmente a razão.


No entanto,
O Girassol está completamente despido do medo:
Ele espera os seus algozes belicosos, morteiros
Tal como se estivesse dormindo calmamente
Sob o aconchego da transparente armadura lúcida,
Reino da fleuma, da sabedoria, do candor e da bravura.


Então começo a crer
Que a hoste dos sóis
Da Resistência Desarmada
Estava envolta pelo manto
Desta balsâmica e benfazeja aura
Ao encarar a fronte vociferante
Dos promotores malévolos da dama Caetana Sorte.


Ás vezes,
Sou acometido de uma forte impressão:
A impressão de que os entes
Que trazem sobre o semblante
Estes predicados do solar sereno horizonte
Não morrem quando recebem o derradeiro golpe;
Antes, sofrem uma poderosa metamorfose:
De outros corpos mentais tomam posse,
Fazendo pulular jardins do iluminado Girassol
Por toda parte.


Afinal, eu reflito:
Mesmo que a matilha de cães famintos
Alcance e trucide o Girassol,
Sua prole --- tão lauta e prolífica ---
Há de nos alimentar o corpo,
A derme, o córtex, o coração:
Sempre resplandecente e nada inerte, o crepúsculo do olhar vão!


Portanto o Girassol concebe o mundo
Conforme os olhos de quem contempla
A paisagem mais límpida, cristalina:
Sem as plumas da obtuosidade, da dúvida
E da bruma da obliqua indulgência soturna.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

PALAVRAS DA NOITE

Todo dia quando a noite me emprenha,
Ouço vozes murmuradas
Bradarem-me por socorro dentro da cabeça estupefata:


Em verdade, são sonhos de uma humanidade
Linear, congraçável, sábia, senhora da equânime magnanimidade,
Que se dirimem ao dinâmico perpasso das marmóreas cidades.


Aí, o que tão-somente remanesce
É o amargo sabor da ferina frustração sádica
Qual ostenta um voraz sorriso de limalha.
Enfim sobra apenas o sol da liberdade
Esvaindo-se em Hipernova: Fantasmagórica Paisagem!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O ALCANCE DO OLHAR

Olho o olhar de quem chora.
Olho o olhar de quem despreza.
Olho o olhar acuidoso do corvo.
Olho o olhar ferino da fera!


Olho o olhar de quem brame.
Olho o olhar de quem geme.
Olho o olhar de desespero das africanas crianças.
Olho o olhar do sangue que derrama cotidianas vidas inocentes!


Olho o olhar de banzo das florestas.
Olho o olhar jocosamente lúgubre das favelas.
Olho o olhar de preconceito e orgulho
Da prole que é fruto da biológica brasileira Aquarela!


Olho o olhar de quem é bravura.
Olho o olhar de quem peleja.
Olho o olhar de quem tem a dignidade e a labuta
Como a sua genética Bandeira!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

CANTO DO SER SEM AURORA E ALVORADA

Um rio agônico que deságua
O ocaso emanando dos moribundos olhos que derramam lágrimas
A cordilheira que se metamorfoseia em cinzas de montanha
A espera impressa e circunscrita na hirta parede da lembrança
O estro que tomba ante o eclipse total da esperança
A criança que dorme, morre e não sonha
O bardo que é maninho pasto, desrepasto, marasmo, secura, insônia
Insânia!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

segunda-feira, 25 de maio de 2009

APRENDIZ DE DIVAGAÇÕES

O teto, acima de mim,
Jaz sólido:
Ainda sim,
Transidamente,
Eu o olho.


Escalavrado pela impotência,
Pelo vácuo, pelo tédio
De afluirmos,
Deliberadamente,
Ao estuário da vida,
Deixo-me domar
Pelo sobrepujante cavalgar
Do heliocentrismo da elegia.


Pesarosas lágrimas silentes
E invisíveis rolam-me
Por sobre a epiderme:


Crianças ao bel-prazer
Do ódio como agasalho
Da devoluta alma,
Devoluta pele e osso,
Devoluta mente,
Devoluto corpo
Sorvem a seiva da ira
Contra o Éden misericordioso.



A eloquente voz de um homem
Esculpe, esmerila e grita
A oração: --- Sim, nós podemos, irmãos!


No entanto,
Será que esta sentença
Ganhará eco de materialização
No reino, hein, das vis-metais mentes e preconceituosos corações?



Não,
Tal convicção não acalenta
Meu escaldado ente-razão,
Mesmo quando agora
O contemplo segurando,
Firmemente, o poderoso cetro
Que norteia o rebanho
Das extáticas cabeças
Que, pelo obliquo caminho, vão.


Na verdade,
O que, cotidianamente,
Vejo é a construção
--- cada vez mais célere ---
De megalópoles quatro palmos
Abaixo do chão.


Na verdade,
O que, cotidianamente,
Vejo são vales de incauto sangue derramado
Regozijarem os galhardos iconoclastas
Da sábia vida prolífica:
O escárnio á longevidade da sua celebração, sua mádida magia!






Testemunho
Querelas que libam,
Avidamente,
O vinho da ganância por poder
Abrir sulcos e crateras
Na mansão do nosso altruísmo.


Testemunho
O gradiente do egoísmo e da maldade
Açambarcar-se, avolumar-se,
Caminhar de mãos dadas com a ubiquidade,
Tornar-se loquacidade, astuto
E voraz canibalismo onipotente:
O arrebate do arrebol da crueldade iminente e a corrosão selvagem,
Chama alimentando a sequidão leviana, alarve
Qual ansiosamente se encontra
Ás portas do sol que liberta
A aura da universal supernova hecatômbica, fúnebre, funesta!


Enfim,
O teto, acima de mim,
Jaz sólido:
Contudo o liquefaço
Com o lume dos pensamentos
Que emana da íris dos meus olhos opacos.


Sim,
Contemplo, como se estivesse
Confinado numa câmara
Hermeticamente fechada,
A insensibilidade degustar-nos
Incomensuravelmente deleitada.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A ESPORÁDICA MAJESTADE DO INCOMUM

Há dias que a retina não controla
A projeção de imagens.
Há dias que a urina infunde
Á leve menção do simples laivo da vontade.
Há dias que a doce e inócua brisa
Escalavra cruelmente a face.
Há dias que a noite
É contínua manhã incólume: a aderente Paisagem!
Há dias que a Escuridão é a alameda
Onde reside a foz de toda a universal verdade.
Há dias que o dia
Aparenta ser fluxos e refluxos de miragem.
Há dias que o Poema
É o mais etéreo plenilúnio da Vacuidade
Há dias que a latitude e a lembrança
São o mais edaz epicentro da saudade.
Há dias que o ser concreto
São os sortilégios de Mérlin, Iemanjá,
Baco, Amon-Rá e o Hades.
Há dias que o Poeta
É corpo sem Verve, a terra sem Verbo: A Vácua Viagem!
Há dias que a guerra
Sucumbe ao sopro do vento da Amizade.
Há dias que a Porta
Não é uma mera passagem.
Há dias que o sofrido povo
Não é miríade e sim, O Principal Personagem.
Há dias que a Poesia sonha
O sonho de ser o Graal da IGUALDADE!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

ÁRIA PARA O VÁCUO

E este claro mar pênsil que diariamente se descortina
E esta frondosa floresta de utopias
Que se converte em Saara, Chernobyl, a Caatinga da Rima...


E esta água refracionda
Que não logra nem cala
O perigo de extinção da vida...


E estas infinitas rajadas de bala
Que irrompem do cano da pistola
Carcomendo irremediavelmente a sina meio madura ou crisálida
De quem morre assassinado, de quem mata...


E esta couraça que não se refrata
E este rio de lágrimas que não quara
E esta felicidade em coma
Que é o mais querido rebento da morte anunciada:
O Sarcófago da Alma de quem sonha...!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

ENTRE ALGUM LUGAR(ODE A WALLY SALOMÃO)

Vérvico galopar
Entre o poroso e o hermético:
Sua mente flui, reflui
Pelas alamedas, ribanceiras
Cordilheiras do Clássico,
Do Moderno e pare, assim,
Um Autêntico Contemporâneo


Fazer Poético
Cosmopolita, Latinoamericano,
Brasileiro, Nordestino, Baiano,
Plenitude do Universo retroagindo-se e se açambarcando!


Seu verso cavalga
Pela estrada da reflexiva,
Filosófica, sonora,
Jocosa, prosódica,
Culta, dionisíaca,
Difusa, diáfana,
Ferina, aquática, sábia,
Copiosa, prolífica, ígnea,
Reta,
Obliqua,
Acuidosa,
Expedita,
Gostosa,
Dúctil,
Livre,
Liberta,
Libertina,
Geral Geleia,
Gelatina,
Eclética,
Ladina Metalinguagem.


Seu poetar codifica e decodifica
A Metalinguagem.
Seu poetar
Penetra e ejacula a Metalinguagem.



Seu poetar
É a Metalinguagem
Que vocifera
Contra a lepra qual acomete e devassa a emoção
E contra o vírus
Da hipocrisia, da miséria, da vácua poetização!


Seu poetar
É a Metalinguagem
Que afaga, fecunda e soca
A janela da intimidade:
Expondo eloquentes aquarelas
Da introspectiva realidade.


Seu poetar
É a Metalinguagem
Que rompe e carcome
O indestrutível cadeado
Das senzalas da Palavra.


Seu poetar
É a Metalinguagem
Que descabaça
O vapor barato


Pois o falo que a aparelha
É verbo nascido
Do ventre do fogo e do aço.



Seu poetar
Alimenta-se
Da molécula
Que fabrica
A Metalinguagem:


Ele bebe a água da Metalinguagem.
Ele come a carne da Metalinguagem.
Ele assume a pelagem e a identidade da Metalinguagem.
Ele é a própria Metalinguagem, na verdade!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A ÓRBITA DA INSANIDADE

ELA, QUANDO NÃO SEMEIA JARDINS DE FENECIMENTO,
MUTILA, CARCOME E SOÇOBRA
A CAPACIDADE DE SONHAR:
SER O ETÉREO VENTO
QUE TRILHA, INCANÇAVELMENTE,
A ALAMEDA DO SERENO SOL DA AURORA,
DA VIDA RECRUDESCENDO.


ELA
ERIGE VÓRTICES, VAGAS, VAGALHÕES
PARA QUEBRANTAR E DEBILITAR
A INÉRCIA DOS MOVIMENTOS IMPÁVIDOS:
TRANSFORMA-A EM FISSÕES, VIDROS,
NAUFRÁGIOS, ANDRAJOS, BALA
QUE CONDUZ A ALEGRIA
AO SEPULCRO DA CONCÓRDIA, DA RAZÃO E DA EMOÇÃO:
AVENIDAS QUE PAVIMENTAM
O CÓSMICO MOSTRUÁRIO MORTUÁRIO
DA RAQUÍTICA SEQUIDÃO!


ELA DERRAMA ORVALHOS DE DUREZA
SOBRE A VIDA DAS PESSOAS:
A SENSIBILIDADE É VITIMADA PELA LEPRA,
TRANSMUDANDO SUAS ALMAS
EM INERTES MATÉRIAS.


ELA, AFINAL,
TRIUNFA E SUA SOBERBA
SE TORNA PLENA, UNA, ONIPOTENTE TEMPLO DE VILEZAS!




ENTÃO O SOL DO ALTRUÍSMO
SE FAZ PLENILÚNIO DO VÁCUO,
E DAS PESSOAS SÓ SOBRA
O IMPÉRIO DE DESTROÇOS, TRISTEZAS, ÓDIO RETESADO!


AH, AFINAL,
A RIQUEZA DO TECIDO DA VIDA
CEDE Á RAREFAÇÃO:
O TORNADO QUE ROÇAGAVA
OS POROS DA PELE COMO BRISA;
AGORA É DENSA SECURA, INCLEMENTE ARDÊNCIA,
A OSTENTAÇÃO DA MALÉVOLA LOUCURA,
A GRADAÇÃO DO VÉRVICO SERTÃO
QUE EMITE FOGO DA BOCA, DAS VÍSCERAS,
DO VENTRE, DAS VEIAS, DAS VENTAS!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A JORNADA PARA O HAVEN DO NIILISMO

Rastros de manhã perdida
Pavimentam o caminho:
Sinto --- no gozo que não se torna exequível ---
O naufrágio dos oníricos sentidos.


Em seguida, como se entrasse o Equilíbrio
Num definitivo estado de suspensão,
A Balança de Libra pende
Para o indômito viés da fúria


Muda e eunuca
Uma vez que as pessoas que sonham horizontais mudanças
---- a concórdia, o amor, a isonomia, a livre consonância ---
Não podem desarmar a bomba atômica


Da Aids da barbárie cotidiana
Que traga o soro da vida,
Deixando a herança dantesca das alamedas da alma sombria
Qual habita a mansão da marmórea insânia vitalícia.


Enquanto este baldio poema exaro,
As engrenagens da avara riqueza de rosto velhaco
Sorvem sôfregas o tecido conjuntivo
Dos oceanos cancerados por flagelos, cansaço e pela alvenaria do vazio.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

IMITAÇÃO DE UM QUASE SONETO PSICODÉLICO

O cérebro anseia, engendra ideias
As ideias erigem as mentosféricas alvenarias da palavra
A palavra, na forma de oração absoluta, composta,
Amada cria cálida da galáxia sintática,
Quer ser escrita e virar a perpétua trova reverberada.


O corpo almeja-se fundir ao cansaço:
A mente que açaima o viço do obstáculo
Sonha gravitar pela órbita
Onde habita o insone lírico perpasso.


Deleito-me com a refulgência que urina em cima da verve puritana, avara
Testemunho a decência que cede ao escárnio
A política é um grandiloquente panegírico ao parasítico e vampírico Teatro.


E esta poesia de hemorróidas, de placebo, de chacina da alegria
E esta chaga chapada, pustulenta na qual a dor nunca definha
E esta coriza que não cessa de verter-me das congestionadas narinas...



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O SIGNO DA MARGEM

Caminho sobre a margem
Caminho sob a margem
Caminho transversalmente á margem
Caminho á margm da serra
Caminho á margem da pedra
Caminho á margem da floresta
Caminho á margem da égide contra a fera
Caminho ás margens da vala prenhe de merdas
Caminho ás margens da selva de pedra
Caminho á margem da magia do vento
Caminho á margem das colinas do tempo
Caminho á margem do Pégaso dos pensamentos
Caminho ás margens de quem semeia o sofrimento
Caminho á margem da maré
Caminho ás margens da prole da prolífica Política-Ralé
Caminho ás margens da Bélica Luxúria
Caminho ás margens do Genocídio de Inocentes e Cândidas Criaturas
Caminho ás margens do Magnânimo Irmão sem Moral e Candura
Caminho á margem da água cristalina
Caminho ás margens das Aves de Rapina
Caminho á margem da ilha Ametista
Caminho á margem da Chapada Diamantina
Caminho á margem da Espiral Suicida
Caminho á margem da vida sabor Tangerina
Caminho á margem da Fidedigna Libra
Caminho á margem do Dia que germine a Pátria Palestina
Caminho á margem da Era em que reine a Flora qual açaima o ódio
E a aura da boca apazigua]
Caminho á margem e ás margens de independentes mulheres, meninas
Caminho á margem de quando Nós não mais seremos gente cativa
Caminho á margem do topo das montanhas
Caminho á margem do arrebol da esperança
Caminho á margem do arrebate da chama da vingança
Caminho á margem das cercanias da memória
Caminho á margem do coração d’alma
Caminho ás margens e á margem do Poder da História
Caminho ás margens do vírus do sofisma
Caminho ás margens da epidemia da ira
Caminho á margem da imunidade ás areias movediças
Caminho á margem do refúgio que nos protege das sacerdotisas da morte
Caminho ás margens da senda que conduz os agônicos até as necrópoles
Caminho ás margens da aragem
Caminho ás margens do túmulo da tarde
Caminho ás margens do oceano das metástases
Caminho á margem do templo da verdade
Caminho á margem da miragem
Caminho á margem da consciência do ego de minhas ferragens
Caminho á margem do lúgubre carma que a verve invade
Caminho á margem das estrelas
Caminho á margem do límpido Poema
Caminho á margem da margem, entenda


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O CERÂMICO GUARDADOR DE PAISAGENS NORDESTINAS

(EM MEMÓRIA DE MESTRE VITALINO)

Um grande homem do povo,
Semente nascida da acre terra bucólica,
Floresce, novamente, ao ser preso
Pelas malhas do sortilégio da cerâmica:
Opulento universo da prolífica verve prodigiosa, epifânica!


Da carne desta mágica argila,
Pulula um cosmo
Que dá loquacidade, eloquência, garbo e encanto
Á estóica vida no nordestino campo:


Os carros de bois em caravana;
A contenda dos amantes conjugais
No exíguo aconchego da sua adôbica cabana;
Os cangaceiros paramentados
Como a realeza do fogo sepulcral;
A Igreja, o santuário da fé imortal;
A gente sofrida, templo da incansável esperança!
Afinal a humilde nação do semi-arido:
Reino dos sábios gigantes,
Forjados pelo metal do contínuo drama insuplantável;
A serena gana de ter direito á vida. Esta gana os agiganta,
Torna-os a indelével chama magnífica!


E então, o artífice
Á rude paisagem sublima:
O olor do cotidiano da faina campestre
Se eterniza, eiva a mente e a visão
Dos presunçosos ignaros
Que desdenham a grandeza
Da laboriosa estirpe do Nordestino Sertão:
Incessante florescência da animosa
Flora tenaz, incarcomível, insoçobrável!



Ah, maestria, ah vitalidade!
Vitalina é a centelha
Que lhe alimenta
A frondosa árvore da criatividade.




Ah, etéreo mago fantástico!
Ah, genial alquimista do barro!
Sua mente, na verdade,
É um cinético vulcão de avatar
Que, ao entrar em erupção,
Transforma o deserto da nossa visão
Em verdejantes bosques de sensibilidade e lirismo.
Enfim, tocados por sua mágica,
Começamos a contemplar a beleza
Cujo perfume, que aprisiona
O organismo, o corpo, a retina e a órbita
Do palato, da audição e do olfato dos olhos,
Molda, norteia e afaga
Os passos da prole do éden da sáfara.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA