BLOGGERAL

terça-feira, 30 de junho de 2009

SONHANDO VERSOS UNDERGROUND

Meus pensamentos fluem
Obliqua e obtusamente:
Sua natureza flerta
Com a tez da bruma
E com o reino da esguelha.


Meus pensamentos desejam ser
A porta aberta que guarda
A alameda da órbita
Onde reside os versos
Quais revelam os mistérios dos
Sítios subterrâneos da mente e da alma.


Meus pensamentos anseiam
Ser pavimentados pelo cimento
Da indignação por testemunharem,
Impotente e pungentemente,
O florescer de flagelos, Guantânamos,
Miragens de erudição, diamantes sanguinolentos,
Frondosas árvores da metropolitana velhacaria
E crisálidas crepusculando sob a ternura
Do descaso que emana do seio do átrio da antemanhã urbana.



Meus pensamentos são assim:
Querem ser versos
Que sejam o perfume da gente comum
Embora saibam-se cativos
Da frívola e tosca eloquência:
Vivenda da poesia vazia, vã!






Afinal, gostaria que meus pensamentos
Portassem o vírus da consciência underground
Para que pudessem extrair do cosmo alijado
A real noção da forma dos seres e das coisas
Por debaixo da derme fabricada.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 27 de junho de 2009

CINEMÁTICA DA LEMBRANÇA

Deambulo meu faminto olhar
Pelo infinito imaginário
Que se assenta sobre o quarto:


Paisagem do intrínseco relicário
---- cujo fluxo, pensava eu,
Encontrava-se definitivamente tresmalhado ----
Fecunda-me novamente o escalavrado ideário.


Aí, testemunho, vividamente,
Como se estivesse de corpo presente,
O embarque e desembarque dos entes
Quais, em algum momento,
Compartilharam o tropegar
Da mesma ambígua e longa estrada


Para, bem no meio do percurso,
Sem ultimatos, sutilezas nem prelúdios,
Fragmentarem-se em intangíveis córregos,
Congostas, vozes, brumas, arbustos e alamedas
De destino errático, eunuco:
A tremeluzente constelação
De sombras e incertezas que pavimenta o humano mundo.


E quando regresso da viagem
---- liberto dos sortilégios da embriagante miragem ----
Procuro, conforme fosse prisioneiro
Da sede de quem somente se sacia
Sorvendo sofregamente
O cristalino elementar liquido,
A mádida égide do caseiro abrigo.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O GIRASSOL TENAZ

A tirania esventra os hialinos horizontes
Do livre voar da prole do córtex:
Faz, hoje, uso do fuzil da latência,
Ancorado no trapiche do reino do povo,
Para açaimar o distinto lúcido coro.


Somos prisioneiros da matrix:
Não falo daquela controlada pelas cibernéticas máquinas,
Mas da matrix regida
Pelos intemperançosos vermes homo sapiens
Que ostentam a vil-metálica gravata.


Ah, no entanto,
Apesar de áridas e encarceradas
Na galáxia das esperas malogradas,
As mentes negam-se a parar de retesar o sonho
De que um dia finalmente
Se transformem no eternal reino de suntuosas águas cor de cristal.


Enfim,
Abrigadas confortavelmente no templo da certeza
De que um dia a liberdade florescerá
Para elas,
Enfrentam as intempéries do mundo
De cabeça erguida e com o olhar
De manhã infinitamente fazendo raiar o sol da primavera.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 25 de junho de 2009

COM O ONTEM AINDA DIURNO NA MEMÓRIA

Ouço barulho de mar ali ao longe:
Ele é a ressonância duma saudade insone.


O mar --- ao ler manhãs ---
Aquece sobejadamente a alma,
Por dissabores, desenganos, amargura, flagelos e chagas,
Integralmente lancinada.


As imagens que suscitam a extática contemplação
Orvalham um sinestético mosaico
De orgânicas paisagens,
Ancoradas no pleno afã de orgasmos da fascinação
Que residem na frenética dinâmica do ciclo dos indeléveis verões:


De fato, são esperanças que aguardam
Sequiosamente a exposição
Da indomável cinemática das águas,
Personificada pela contínua sessão
De onipotentes e radiosos vagalhões
Cuja rijeza açaima toda e qualquer sombra de acomodação.


Ouço barulho de mar ali ao longe:
Parece ser tão vívido, estar tão próximo
Que quase me transformo
Numa enlevante catarata de lágrimas incessantes:
Oceano fluindo sem represa nem paragem. É o
Sol do H2O selvagem qual irrompe da verve
Como aurora emocionada:
Aquântica órfã de agrimensura, de estremaduras,
De estafetas que portem, na fala,
O amor pela calorosa e balsâmica enseada.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A PROLE DA FÉ

Olhemos atentamente o que ostenta
A imagem transmitida pela tv:
No noticiário noctívago,
O cortejo trôpego da gente
De semblante sulcado, sofrido, álacre, lôbrego,
Mestiço, sôfrego, extasiado, sertanejo e íntegro
Faz ecoar seu religioso cântico
De celebração da vida.


Em cada um deles,
Templos da diáfana credulidade
Se edificam, prosperam,
Irrompem-lhes o DNA,
Cultivando novos jardins da cintilante flor amarela,
Tornando-se, enfim, o núcleo, o entorno
E o todo da sua orgânica matéria.


Por isso, quando quase exauridos,
Em seu dúctil ânimo,
Pelo perverso itinerário de chagas, desgraças e látegos,
Erigido por seu sinuoso fado,
Não optam por se entregar ao refrigerante vácuo,
Á reconfortante quietude infinita
Do prematuro ocaso;
Deixam, ao contrário,
Que a chama da crença
Dome e incendeie seu abstrato cosmo corpóreo,
Metamorfoseando-o no mais inexpugnável dos santuários!


No entanto,
Apesar dos sacerdotes ou zagais da mentira,
Dos paraísos ou oásis
Que segredam as perniciosas areias movediças,
A aura da esperança,
Encerrada no coração
Daquelas pessoas generosas, denodadas,
Transmite respeito, comove, cativa
Um centurião marxista.



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 23 de junho de 2009

REINO DEVOLUTO

Gradativamente,
Ela cria atmosferas ignescentes
Dentro do corpo:


As labaredas ganham massa,
Recrudescendo-me e grassando-me
Por toda a planície e ravinas do frágil organismo primata.


Sinto-a degustar-me a pele:
Á erupção do vulcão
Minha matéria converge.


Então sou sauna:
Doravante me converto
No ponto máximo de trilhões de fornalhas.


Com efeito, minha temperatura atinge 40 graus Celsius na escala:
Metamorfoseio-me na infrene tremedeira insaciada,
Sou, portanto, a voraz febre hemorrágica!


Assim, dali a pouco,
A urina, o excremento e o plasma prorrompem sôfregos
Do humano moribundo esqueleto carnoso.


Afinal um mar vermelho se forma, expandindo-se suntuosodomina, preenche toda a lacuna do íntimo cômodo
E deixa a vida sem gleba, latifúndio ou trono.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

OLARIA DA POESIA RAQUÍTICA

Fabrico toscos tijolos da Lírica:
Em seguida, monto o poema
Com toneladas do cimento
Da ferina lâmina dos sentimentos


Ou com a onipotente argamassa da líquida reflexão
(a sua concisa e basilar alvenaria).
Assim ---- ei-la, enfim ----
Como a mais eloquente desnutrição da poesia.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

segunda-feira, 22 de junho de 2009

A COR DO VÁCUO

Como se contemplasse uma paisagem impalpável,
Testemunho recorrentemente
O ocaso e o desassossego dos sóis humanos:


Ainda hospedados na nave d’aurora;
A meio caminho do limite da estrada
Sombria, pérfida e sinuosa;
Dando passos cautelosos, breves
Sobre a obliqua corda bamba
Da falcifórmica alegria,
Cuja sina é ser o corpo
Que sempre tomba
Muito antes de chegar
Á fonte da água cristalina.


A mais pura verdade
É que a flor da inocência
Mal eclode, desabrocha, prospera;
Já sofre voz de prisão
E passa sua vida ----
Que, na gestação,
Emitia uma luz
Tão impávida, ígnea ---
Numa empedernida cela:
Solitária, sádica,
Faca a esventrar
Inclementemente
As vísceras da mental aquarela.



Ah, a onipotência da crueza
É uma força inexorável:
Ela desfila pelas passarelas da guerra;
Ela se alimenta de almas errantes, erráticas, crédulas;
Ela se tranforma continuamente
Nos habitacionais carcinomas da selva de pedra.


Ah, a miséria humana
Ah, a sede por vidas etéreas
Sôfrega e celeremente
Apodera-se da nossa chama e medra soberana.


E depois,
A paisagem do vácuo
É o que unicamente sobra:


Não há mente
Não há verve
Não há lembranças nem versos de protesto
E de paixão.


O que vive é um corpo:
Um corpo
Que não ama, não pensa.
Um corpo
Que não sente dor, desejo,
Brisa, luto ou tampouco saboreia a vida.


O que vive,
Finalmente,
É uma matéria
Que apenas anda
E ocupa lugar
Sob a imensidão
Da atmosfera da Terra.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 20 de junho de 2009

O SORO DO SERTÃO

Tanta é a fé:
Quão fundo é o drama.
Tamanha é a inclemência
Da chama do sol
Que, sobre a terra igneamente cálida,
Perenemente medra, se propaga,
Se agiganta e impera como tom maior, altissonante monarca:
A onipresente ressonância da hiperbólica nota máxima!


Facunda é a oração cancionada
Para que a benção da água verta,
Na forma de profusa derrama lacrimejada:
Miraculosa chuva caudalosa, corpulenta,
Sequiosa, faminta, gulosa, sedenta!


Tanta é a rijeza:
Tamanha é a crença
Na grandiloquência do poder qual se assenta
No opulento sólio do reino da reverberante oralidade da lenda.


Tantos são os passos
Á medida do quão numerosos se fazem os calos:
Tamanha é a esperança na colheita
De um auspicioso, magnânimo, benfazejo maná da cristã opulência.


Tão certamente crédula é a confiança em São José:
Quão visceral, vívida, viçosa
É a reza qual tecem os fiés junto a seu coeso e madeiroso par de pés
Que a secura sucumbe á incólume muralha da resistência
Da Animosa Gente Sertaneja.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A DANTESCA VIGÍLIA INTANGÍVEL

Há uma nuvem de sombra, de penumbra
Acompanhando e norteando os nossos passos:
Ela nos entuba a mente,
Ministrando-nos latentes doses cavalares
Da sua cara ordem ideal, formidável:
Onipotente, onipresente, sodômica, noturna
E opressivamente solar, diáfana, diurna,
Soturna, elegíaca, sepulcral, gótica,
Fimósica, femural, tumoral, plúmbea!


Há uma nuvem de sombra, de penumbra
Acompanhando e norteando os nossos passos:
Ela esventra e trucida
Qualquer célula que a enxergue,
Em sua forma legítima,
E faça os pensamentos
Lutarem pela perpétua
Soberania da sua vida ignotamente augusta:
Sim, esta, guarda a via proba, segura
Qual nos leva ao píncaro nirvânico da mente mais ígnea, lúcida
Cuja luz descerra o caminho para o sol da perspicaz ventania
Que é o opalítico céu da sabedoria cor de Ametista!



Há uma nuvem de sombra, de penumbra
Acompanhando e norteando os nossos passos:
Ela nos nutre, nos edifica
Uma ventura de anestésica servidão
Ás Pátrias que estupram e silenciam
A eloquente sinfonia onírica da estamental Simetria!



Há uma nuvem de sombra, de penumbra
Acompanhando e norteando os nossos passos:
Ela provoca a letargia vitalícia
Do sangue da Filosofia,
Corrente em nossas veias políticas
E anuncia o óbito
Da manancial dos autônomos sensos,
Compondo-lhe uma sarcástica,
Humilhante elegia, vil preito, música ferina:
Erudita baixaria! Baixaria! Baixaria!


Há uma nuvem de sombra, de penumbra
Dentro do templo do nosso crepúsculo:
Ela urina, defeca e dá gargalhadas
Sobre o nosso ideológico túmulo.


Há uma nuvem de sombra, de penumbra
Que esgarça, flagela, molesta, domina,
Insulta e, sádica, nos emprenha o mundo:
Sujeitando-nos á sua pérfida e sicária cria de sanguessugas.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

VIVENDA ONDE MORA O AFLUENTE DA REFLEXÃO

Subo e desço os degraus do pensamento:
Como que continuamente,
Canteiros de pressurosas palavras brotam-me na mente, ejaculam sentimentos.


E, quase imediatamente,
Acionam o campo onde prospera o cinético motor
Que compele as mãos
Á lírica escrita tropegamente cítrica, metálica, grave anemia
[Inanição


Um motim da consciência
Qual se levanta contra a peçonha da hipocrisia, da opressão.
Um olhar que se silencia ou se aniquila
Ante a cáustica saliva do solitário fado vão.


Sobre o píncaro da escada,
Vejo gente, manada, orquídeas, riachos, estios, dezembros, moringas, sertões
Fluírem e refluírem como marés, tristonho embarque-desembarque
Sezões]



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 16 de junho de 2009

O TESOURO DE UM INEPTO

O TESOURO DE UM INEPTO



Sobre as mãos da mente,
Tenho a certeza do naufrágio:
Setas que sigo me conduzem sempre
A uma miríade de barátrios.


Enquanto o otimismo materno
Sonha caminhos de êxito e halo,
Meu ente --- ciente do malogro como fado ---
Manda um email a meu ego,
Exigindo que ele ande
De mãos dadas com a humildade:
Desta seja devoto, fiel amante e cioso servo.


Tudo porque minha pessoa
Perfeitamente sabe
Que o vácuo jaz em mim qual DNA:
Residente em toda matéria viva,
Que habita o espaço solar.


Ah, almejo que um dia
Realmente vejam quem eu sou:
A suprema majestade dos mentecaptos...
O maior entre os náufragos...
A eternal aurora do fracasso!!!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

PLEONASMO DO POEMA-POESIA

O Poema é uma centelha
Concomitantemente
Conclamada e errática.


O Poema é a equação
Que habita o cérebro
Da nossa dualidade:
Pavimenta a alameda da emoção e da racionalidade.


O Poema é uma enigmática areia movediça:
Rebenta prenhe ou órfão de um intento
E trilha vias do alcácer das viroses dos abstratos, concretos tormentos
(sejam os frívolos dissabores, seja a dantesca
luminescência da bruma do quase aniquilamento),
Antes de se transmudar em monumento
Á Lógica, ao tornado dos vulcânicos sentimentos
Ou ao maremoto dos libertários devaneios.


O Poema é a aquarela
De um premeditado
Ou inesperado Estalo:


Nasce no córtex,
Navegando pelo
Oceano de teias e correntes da mente


Para, em seguida, desaguar sobre
O espaço vazio como palavra:
Quer Verso insalubre, amarelo, hospitalar, alegria flagelada;
Quer jucunda ventania, Poesia em estado de Graça!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 13 de junho de 2009

HEMORRAGIA DA ESPERANÇA

(INSPIRADO PELO FILME BAIXIO DAS BESTAS)


Mulher-coisa
Mulher á venda
Mulher-nada
Mulher com a sua dignidade sangrada
Mulher-carne
Mulher que anda sempre ao largo do direito á privacidade
Mulher alugada á alheia sofreguidão selvagem
Mulher-propriedade
Mulher-objeto
Mulher-sexo
Mulher sujeitada á tirania da demanda
Mulher expulsa do reino da álacre infância
Mulher que ostenta
No âmago do seu corpo
Melancolia, padecimento e o dolente desgosto
Mulher cativa
Mulher-menina
Menina-presa
Menina confinada no cárcere da violência
Menina que encerra
No seu taciturno pranto
Uma vida vazia de sonhos
Menina errante, errática:
Sem horizontes a seguir
Sobre a ponte da sua dura jornada
Menina que tem por horizonte
O sol de uma sina malograda
Menina que tem como guia, ventura e carma
O vitalício caminhar sobre o vácuo da estrada
Feminina, Menina, Mulher, Maná
Manhã, Alvo da Chaga, Comida da Sáfara!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

ZARPANDO PELAS MESMAS ÁGUAS

Nem chuva, nem bruma, nem sol:
Meu poema são as crianças
Que, com seus pais,
Acossados pela miséria,


Trabalham nas arcaicas fábricas
De carvão
Para que possam semear
Miragens de satisfação


Que ludibriem a fome
Enquanto demoradamente consomem
Uma raquítica nuvem de pão!


Meu poema, afinal, é acerbo:
Caminha abraçado
Á estrada dos versos baldios, estéreis arvoredos!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 12 de junho de 2009

POEMA AQUÉM DA POROSIDADE

Meu olhar queda retrátil
Quando sorvido pelo silêncio
Do pensar largo.


Meu fazer nem graceja:
Seu sorriso é cênico
E sorumbático: tem sabor de Mastruz com Carqueja!


Minha jocosa verve
Chora quando readquire
A tez, o sumo
Do deserto e do cabaço.


Então o poema
Nem sangra, nem mija, nem filma, nem escarra, nem voa,
Nem clama, nem ama, nem brame: viva a serenidade!
Nem irrompe lágrimas e nem é porosidade.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O PRANTO DA ESTRELA DE FOGO

O Sol, que nos ilumina
E magnanimamente nos vivifica,
Verte dos olhos oceanos da mais funda dolência:


As guerras e a busca por realeza suprema
Tornam mármore os homens. Oprimindo
A Natureza, transformam-Na no mais furioso Estadão equânime!


Monarca-mor dos estafetas
Da mais sábia e feérica Felicidade, Grandeza,
O Sol, Fonte da mais bela aventura inefável,
Lava as mãos da Piedade(não hipocritamente como Pilatos),
Deixando que a Mãe-Gaia expie a humanidade.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 9 de junho de 2009

A CINÉTICA DO INTANGÍVEL

Observo passos ao longe:
Na verdade, eu tão-só os escuto. Tenho
A forte impressão de parecerem bastante nitentes
Para o raio de ação da minha audição. No
Entanto, o manto da intangibilidade
Guarnece-os e os absconde
Sobre o ignoto píncaro do monte
Onde irrompe o inexpugnável horizonte.


Como que avidamente,
Fico querendo desvelar
Este hermético mistério, mas não consigo.
Em minha mente,
Vislumbro ordas de ladrões soturnos e escorregadios,
Sádicos seriais assassinos furtivos,
Rancorosos fantasmas:
Habitantes das minhas tenras
Eras lôbregas que me jazem,
Há muito, no memorial limbo.


De repente,
Como num passe de mágica,
Meu pensamento viaja:


Passeia sorumbaticamente
Pelas alamedas da tortura de Guantânamo e de Bagdá,
Do genocídio na plaga do Araguaia,
Pelas salas e celas escuras do DOPS.
Ainda, neste mesmo pungente passeio,
Contemplo um homem
Rosnar ferozmente contra a fronte da
Intencional morte. O nome dele...Vladimir Herzog!





Deparo-me com as feridas psicológicas de frei Tito:
Continuamente florescem e inexoravelmente
O lancinam, dando a luz a um facínora
Que lhe fala cruelmente ao ouvido.


Testemunho impotente e furioso
O condor da maldade,
Trajado sombriamente
Com seu riso malevolamente sutil,
Voar impune, gracejoso, cáustico, soberano:
Hipocritamente intrépido, varonil!


Contudo, é só a verve que se revolta:
Ela constata que a velhacaria
É o maior estandarte da espécie humana;
É a energia que movimenta a roda-viva
Da nossa odiosa invisível força.



Mas a chama do sol teima em fulgurar:
Talvez espere que um dia o povo
Saia do estado de animação suspensa
E reivindique o comando do mundo.


Ah, e a elite destronada,
Ao cair no abismo da desgraça,
Depreenda que uma vida de migalhas
Atenua a fome, porém também,
Erige o caminho para a emancipação
Do dragão confinado no âmago das massas.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O MIRANTE DO DESABROCHAR PRECOCE

Ao descerrar a janela do meu quarto,
Contemplo a paisagem do quintal de casa:
Compleição bucólica em que predomina
Uma atmosfera que cintila ao sol da manhã de crisálida.


Aqui, parece que a alvorada
Se despede mais cedo:
Entrega-se ao arrebate do fogo heliocêntrico
Quando o dia jaz ainda sob o aconchego do leito.


Passados alguns momentos de deslumbramento,
Acomodo um pouco meu olhar
Sobre a ventura da ótica
Que repousa na cama da urbana roça:


Meu par de olhos goza o contemplar
Das bananeiras, abacates, graviolas;
Mangas, mamões, limas, limões, laranjas, cenouras, abóboras;
Mandiocas, cocos, inhames, batatas-doces, acerolas!


No entanto, é o céu que me enleva e arrebata:
O albino azul que me afoga;
As nuvens pairando plácidas;
No ventre, posso vislumbrar a linha do horizonte e ás abóbadas agigantadas.


Afinal, ao regressar da dimensão do divagar,
Sinto-me como tivesse levitado
A bordo da nave do profundo pensar:
Agora, a poesia, em mim, eclode, recrudesce, é contínuo jorro de avatar!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quarta-feira, 3 de junho de 2009

DESCONSTRUÇÃO

Imerso no magnetismo do colchão,
Perco-me numa neblina de sonhos, miragens e vãs divagações.
Quando acordo,
Possuo apenas um poema


De índole vácua:
E sua teia é navalha
Que o corcel da mente escalavra,
Lancina e mata.


Seu legado é o soçobrar do fluído verbo.
Seu legado é a afasia do produtivo fazer poético.
Seu legado é a elisão do penetrante, sábio e facundo verso!


Assim, o que resta é um poetar sem eco, povo nem reflexo.
O que resta é um poetar sem alvenaria, alicerce, paredes e teto.
O que resta é um poetar com malária, chagásico, asceta, Acético!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 2 de junho de 2009

OS FILHOS DA AVE RENASCIDA DAS CINZAS

Fôssemos Gaia,
Mandávamos chuva pra elidir a secura.


Fôssemos Gaia,
fazíamos a partilha por igual das terras.


Fôssemos Gaia,
Não daixávamos o povo migrar do campo
Rumo ás favelas.


Fôssemos Gaia,
Tornávamos o Sertão
No mais caudaloso mar exuberante do Atlântico.


Fôssemos Gaia,
Retalhávamos os devotos da Nordestina Desgraça
Com a poderosa espada da comunal Democracia sintática.



Fôssemos Gaia,
Seríamos o sol que libertaria
A gente severina da sina de Andrômeda da miséria contínua
Da qual tantas vezes versara o Sol-Mor da popular Poesia:
O nosso querido Mestre Patativa!



Fôssemos Gaia,
Transformávamos a Nação moldada
Pela lírica Pedra e Pedrada
Na mais bela, fausta
Das oceânicas Águas.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

segunda-feira, 1 de junho de 2009

BAGAGEM, CREPÚSCULO E O DESCONHECIDO

Tenho cãs nos olhos:
A noção de fugacidade da vida
Arrebata-me pouco depois que saio
Do aminiótico aquário no qual, por meses, residira.


Guardo, dentro das narinas,
O eflúvio da fumaça assassina:
Meu olhar é tragado
Pela viscosa pemeabilidade


Que floresce das vielas
Onde mora o desdém á prosperidade dos desvalidos Girassóis:
Então, como não conseguissem germinar
Tal rebentos da via Láctea da igualitária ascensão,


Encontram, nos afagos
Que vicejam da moderna
Prole da pólvora,
A senda para segurarem o pólen do poder nas mãos.


Entretanto, este curto caminho
É insidioso, visceralmente ferino:
O êxtase que ele proporciona
Cobra o preço do prematuro e imorredouro abismo.



Ah, a sofreguidão e o afinco,
Com os quais se entregam estes artífices famintos,
Alimentam a fome dos dantescos barões da ignescência
Por novos edens da sangrenta opulência!


Trago lágrimas nos olhos:
Penso no quão dardejaria
A lactente constelação de estrelas
Se houvesse escapado da gula do desconhecido que cria a supernova egoísta.

ESQUADRINHANDO A INSÔNIA

Vagando por entre
Os subsolos da mente,
Percebo o quão virgem
É meu olhar sobre a cromática
De mim mesmo e do mundo:
Sim, quando se trata,
Principalmente,
Do seu viés subjacente
Qual aflora dos âmagos-pomos,
Responsáveis por fazer parir
O firmamento azul-escuro


Como se fosse tomado
Pelo arrebol do desejo
Do profundo descobrimento,
Eu descortino uma miríade
De relegadas paisagens,
Confinadas no calabouço
Dos livres pensamentos.


Então,
Ao penetrar na sua infinita e opulenta câmara,
Mergulho no mar do quase silêncio:


Uma vez dentro dele,
Contemplo a túnica da calma
Camuflar o lancinante drama
Que emana do vislumbre
Da imagem de pessoas
Á margem da alegre e jocosa aurora:
Apagadas á bala e com testemunhas mudas;
Ou agasalhadas pela frieza do relento
Cuja impiedosa fonte pulula da empedernida rua.


Uma vez dentro dele,
Fito, nitidamente,
A elisão da humanidade:


Mulheres e crianças
Sendo tratadas
Ou sobrevivendo
Como um suculento pedaço de carne.


Uma vez dentro dele,
Sinto o sabor acerbo do plasma
Que irrompe da mortífera
E cibernética prole da pólvora
E inunda toda a Inócua, Incauta, Prosaica, Pacífica Flama
Tapeçaria Meso-Asiática, Maometana!



Uma vez dentro dele,
Fixo o olhar
No mais profundo
Âmago de mim
E vejo a acre pele de desencanto
Ou sáfara exacerbada
Recobrir-me a aura.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA