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sexta-feira, 24 de julho de 2009

CRIPTOMUNDO

Há vocábulos que não conseguem migrar
Para a manancial da matéria:
Pululam como eternos escravos da mentosfera.


E quando, por acaso, escapam a tal ventura,
Chegando ao portal das metamorfoses,
Afluem ao sepulcro das indigentes mensagens insones.


Por não saber semantizar perfeitamente
O fluxo e o refluxo da crua realidade
Que ulceriza, alucina e tortura
A animosa, padecida prole da cavalgadura,
Guardo as poderosas palavras nas casamatas da teimosa utopia soturna.
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A MESMA MÚSICA

Sou galáxias além da Via Láctea
Sou estrelas mais colossais e maiores que o sol
Sou um bólide-asteróide que transpassa Júpiter,
Soçobrando a vida pulsante qual habita o Planeta Azul.


Sou o vácuo que aumenta gritantemente
Pois as chagas e a opressão
Grassam e grelam
Sem precedentes, sem medida, sem padrão.


Sou um espectador inócuo, impotente,
Que olha, lugubremente,
A ganância edificar necrópoles
Para aqueles nascidos do sol da esperança.


Sou crepúsculos e auroras
Sou surpresas e alamedas erráticas
Sou brumas e luzernas
Sou um canto anônimo e estéril
Sonhando, incessantemente,
Com o dia que a luz da compreensão
Penetre-nos a retina da mente
E nos soçobre definitivamente
A fome pela magna quadra destrutiva:
A cobiça, o poder, a tirania, a supremacia!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

segunda-feira, 20 de julho de 2009

POEMICÍDIO

Comer o papel escrito denotativamente
É processá-lo usando a máquina do metabolismo
E o expelir do organismo,
Através do reto,
Para que aflua ao caminho dos demais dejetos.
Ah, com o perpasso do tempo,
Á mãe NATUREZA regressa
Como o fecundo adubo qual alimenta a terra.


Degustar as letras,
Metonimicamente,
É disparar a tinta:
Bala da ferina lufada de fricção
Ao verso dirigida.


Pranto do meu pranto
É quando o gosto do meu fel
planta e derrama
lágrimas da minha errância, culpa que sangra o réu!


Afinal,
Assassino o meu filho;
Assassino o fragmento mais querido da minha ilha;
Assassino minha lavra:
Dando cabo do meu poema
Pois, assim, aplaco a raiva.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O VERBO DA MALDADE

Pessoas que terraplenam a chama da vida
Não podem ser vistas como a mais horrenda alcateia;
São, ao contrário, guardiões da longeva luzerna.


Sandálias e Alpercatas
Quais, inexoravelmente, incineravam
--- com o seu vulcânico solado ---
As Cataratas que escudassem
A Flora da Liberdade


Não deveriam desfilar pelas passarelas da sabedoria e da bondade
Como paladinas da orgânica magia:
Isto por serem, na verdade, fanáticas discípulas
Da cavalaria do tirânico sofisma:
Templo da sádica, vil e infame vaidade, sujidade, vilania!


Ah,
Quando as Sandálias e Alpercatas
Evocam o desejo
De manhãs infinitas
Para a orgânica magia,
Estão, de fato,
Relembrando, com saudade,
Do tempo em que prosperava
O eco do império
Do Verbo da Maldade.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

KINGDOM OF BLUE STARS

Lá, pairando a fulgurar além da terra,
Além da Via Láctea,
Estão estrelas com uma envergadura
Que transcende abissalmente a magnitude do sol.


Lá,
O Astro Gerador da Vida Terrestre
Não chegaria sequer a coadjuvante ou a tangível figurante:
Seria um opaco treseunte sujeito a um ocaso
Inexorável e célere.


Lá, nós nem sequer cogitaríamos
Abraçar e nos apoderar da fonte da destruição,
Porque antes de existirmos,
A energia heliocêntrica já teria sido esmagada
Pela onipotência da azulina constelação.


Lá, não existiria
Poder, poetas, fauna, flora, oceanos, florestas;
Amores, rancores, jogos, atores, amantes, cônjuges
Nem corrupção!


Lá,
Somente estas estrelas
A reinarem soberanamente
Azuis.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 10 de julho de 2009

SINFONIA DA GUARDA DA ABERTA CAIXA DE PANDORA

Desnudam-se da pele
Da servidão ao escudo
Para destilar,
Livre e deliberadamente,
Peçonha e lufadas de chumbo


Que conduzem a hoste
De crisálidas, alvoradas,
Altas manhãs ensolaradas e do limiar
Da crepuscular tarde sábia
Á ávida bocarra
Da pérfida cova rasa.


Não,
Nem mesmo se apiedam
Do incauto repouso
Que, num quarto humilde,
Regozijadamente se hospeda:


A bem da verdade,
Como discípulos da humana miséria,
As sentinelas da Pátria da emoção desértica
Alimentam seus olhos de harpia ou hiena
Com o colírio da malévola quimera
E projetam, em tudo o que contemplam,
A paisagem da voragem, da tragédia!




Também vivem
Para dirigir
---- com mãos lascivas, ferinas, empedernidas, austeras, férreas -----
A operária orquestra
Das inebriantes Mandrágoras modernas.


Afinal,
A música da tortura
É executada:


O vírus da tristeza
Em direção ao povo
Sequiosamente se alastra,
Dando margem á era
Do contínuo desfile
Da fúnebre marcha.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 9 de julho de 2009

A IGNOTA EQUAÇÃO HERMÉTICA DE UMA MATÉRIA

Ela não emite e nem absorve o galopar pujante e pungente
Da luz, da energia.
Ela vaga intangível pelo espaço:
Á revelia dos tradicionais dogmas
Da Gravidade, da Astro-Física.


Ela faz da incapacidade
De comprovar a sua existência
O seu éden abscondido:
O poder da altiva acuidade,
O poder da mais onipotente fortaleza,
O poder da mais sábia aquarela da insurgência,
A fluência da mais dinâmica cachoeira da móbil clareza,
A sageza daquela que é a mais inalcansavel cordilheira da transparência!


Ela aglomera estrelas:
Torna o lúgubre universo
Em cinéticos pontos de luminescência.


Ela, afinal, me espanta:
Trajada com a indumentária do anonimato,
Se comuta numa das forças
Que timoneram o sideral vácuo.





Ah, como quero fitá-la,
Degustá-la opticamente
E tangê-la no afagar da demora:
Abraçá-la, amá-la, sorvê-la,
Adquirir-lhe a virtude do contínuo voo
E segui-la esconsamente
Pela vastidão das galáxias,
Que, a granel,
Nascendo, medrando, morrendo,
Caminhando para o reino da unificação se vão.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 7 de julho de 2009

VIAGEM POR UM FLASH

Por um átimo eu saio:
Saio do templo de mim
Para degustar novas paisagens:
Paisagens que mostram
Naturezas mortas, vivas;
Egoístas, magnânimas, malévolas;
Ecletismos e aquarelas sem fim.


E, ao fazê-lo,
As pernas do meu pensamento
Singram alamedas, pontes, rodovias
Da beleza esconsa em cada esquina
Das múltiplas humanas vísceras.


Tais vísceras são heterogêneas ilhas:
Por isso penso-as
Opulentos jardins magníficos, putrefados,
Singelos, prosaicos, ordinários,
Rarefeitos, temperados
De surpresa e poesia.




Deixo-me eivar
Dos matizes da pungência de mazelas alheias:
Viro aidético e experimento
O acerbo sabor do desprezo;
Viro sertanejo e sinto-me presa
Das intempéries da seca,
Das promessas feitas pelos magos da falácia
Como também da eterna esperança acesa,
Que, no peito destes incríveis seres resignados,
Nunca se açaima, se tresmalha, se rende ao fogo do ocaso;
Assumo-me como negro que sou,
Permitindo que meu corpo seja envolto
Pelo manto danoso da aura da marginalização;
Assumo-me como índio que sou,
Sentindo o cultural genocídio varrer o meu chão;
Assumo-me como paralítico que sou,
Assistindo impotente á porta das oportunidades
Trancar-se por onde as rodas da minha cadeira vão;
Assumo-me como mulher, como idoso, como homo,
Como gordo, como um joão-ninguém,
Como uma pessoa fora do social padrão
E sou alvejado mortalmente pelo projétil da exclusão.


Afinal, regresso á minha velha rotina,
Impregnado do eflúvio da consciência
De que o mundo é feérico,
E o tornamos diariamente facínora e carrasco,
A mais dantesca mansão sangrenta!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

IMORREDOURO DA MENTE

Indelével é a sua face.
Indelével é o seu corpo, silente e calmo bólide caudaloso.
Indelével é o seu mosaical gesto:
Capcioso, modorrenta brisa alegre.
Nunca olvidarei da basáltica pele marrom-formiga.
Que temeridade pegar o metrô errado da vida:
O fogo é o monsenhor da perfídia, cria quimeras daninhas!
Agora, o que paira sobre a paisagem
É o frívolo nevoeiro do vão lamento:
Armar-se, como puder,
Contra o horizonte insidioso
É o único caminho que lhe cabe.
Sinto, não poderá lográ-lo:
Mesmo que o pudesse,
Quando conseguisse tocá-lo,
Ele mudaria de forma
E se revelaria caixa aberta de Pandora.
Enfim, você não pode ser acolhida
Nos braços do éden sonhado.
Todavia,
Não importa, não importa!
No meu horizonte,
Sempre terá lugar cativo.
Ah, no horizonte da mente,
Eu, diariamente,
A persigo! Persigo!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 4 de julho de 2009

VOICES WITHOUT FLOWER AND SUN

Sentado em uma das poltronas do meu ego,
Perscruto nuvens de breu do passado:
Elas são malgas densas
E corpulentos guarda-roupas de fel
Que se tornam febres de lancinação
Do remorso calcinante, cruel!


Então, assim trôpega e amargamente,
Ressingro a alameda
De meus execráveis erros:
Forço-me a ficar ante a torpe face
Dos eus nefandos cuja morada
Deita na crosta da minha pessoa hipócrita, nefasta!


Ah, e quando os contemplo,
Compreendo a real latitude do medo
Que impõe um semblante composto
Pelo nevoeiro de geleiras, êxtase
E sofreguidão por causar infinitos tormentos.


Ah, como quero o perdão
E o alento que minhas vítimas não tiveram.
Como me confortaria poder construir
Uma máquina do tempo
Para regressar á época dos meus tenros delitos:
Sustar-me a materialização dos atos dantescos
Quando, ao penetrar no universo da mente,
Afluísse ao reino do córtex,
Onde instalaria um vírus
Qual pusesse cobro
A germinação dos pensamentos
Malevolamente insanos.




Infelizmente, não posso retroagir no tempo.
Não posso eludir que o remorso irrompa
E vire metástase. Não posso. Por isso
Me transformo em infrenes cachoeiras de elegia e lamento!


Não tenho direito á flora das manhãs.
Não tenho direito á primavera
Cujo aroma pulula da concórdia.
Não tenho direito ao refrigério
Do mental divã que livremente flutua sobre o céu sem agrimensura.
Não tenho direito a verdade que repousa
Dentro do ventre da ametista
Onde se assenta o paraíso do Nirvana.




JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O HOMEM-BAÍA

Os sortilégios da Ondina equatorial sequestraram
O fluxo da vida de um homem.
Os sortilégios das sáfaras equatoriais
Guiam os passos da vida de um homem.
Os sortilégios que emanam da última Esmeralda equatorial
Norteiam a longa jornada de um homem.


Todavia, nesta odisseia,
Ele não está só:
Acompanham-no, não apenas irmãos de cumplicidade,
Mas, sobretudo, cativos.
Cativos da esperança de que floresça
O sol de comestíveis manhãs
Quando chegarem ao crepúsculo da marítima estrada!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A RESIGNADA PRESENÇA DA CHAMA

Sobre a imensurável alameda da memória,
Os passos da voz prosseguem a sua inabalável jornda
Conforme não houvessem fugido da minha humilde enseada:


Eles agem como se convergissem
Sofregamente á foz dos meus escombros
Para acalentar-me a viscosidade do sonho.


Luto, afinal, para me libertar
Dos grilhões do transe. No
Entanto, a rijeza dos sortilégios
Que lhe afloram dos verbos e do basáltico corpo
Descerram-me a porta do perene gozo.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 2 de julho de 2009

MOVIMENTO BRUTO

A cinética dos pratos manifesta-se
Por meio de uma energia externa,
Aparentemente, mantida incógnita
Pelo grande poeta da inépcia.


Observem como eles, os pratos,
Rebentos do reino do opaco,
Rodopiam impulsionados
Pelo inefável viço criptográfico.


Como rodopiam tais entes concretos:
É conforme se movessem
Empedernidos ao medo e aos dédalos do sombrio ego.


Ah, a impressão que me dá
É de que eles começam
Tal como se fossem
Bólides, raios, guepardos
E, ao voejar súbito de uma inesperada lufada-bálsamo,
Parassem paulatinamente:
Redendo-se, gradativamente,
Aos enlevos emanados
Do universo do portal do esgotável.




Ah,
Ao me pegar
Contemplando o desenrolar
Do processo do movimento,
Vejo que parecem ser guiados
Pela perpetuidade qual irrompe deste extático momento.


Contudo, eu denoto
Que a fugacidade soçobra o evo,
Contido na inércia do movimento:


Aí, o ritmo do rodopio
Cada vez mais arrefece
Até os levarem plenamente
Ao estado de estafa
Para os transformar
No mais suculento alimento
Que sacia a força estática.


Afinal,
Um tenaz pensar
Assola o cérebro
E molesta a língua:


Quem neles o movimento fomenta, hein?
Ah, amigos, qual mistério não há,
Porque os pratos são o objeto do desejo
Que obriga os dedos a movimentar
Os dois exemplares da matéria bruta
Até a lassidão plenamente taciturna reinar.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

CONSCIÊNCIA POLIFÓRMICA

Sou dois e outros vários homens
Sou três, e alguns poucos comem
Sou um musical quarteto sem cordas
Sou cem vidas mortas.


Sou trânsfuga do vírus do alheamento
Sou a tinta que dissemina e coagula o político discernimento
Sou o vórtice transformado em primavera
Sou a pedra que erige oceanos, montanhas e Amazônicas Florestas.


Sou o relógio que açaima o furor da pressa
Sou Pearl Jam, Led zapeling, Pink Floyd, Nirvana, Ciranda, Forró, Metálica
Sou a magia do Samba, da Seresta, do Blues, da Bossa, da Música Clássica.


Sou muitas gentes, versos, prosas
Sou a dor, a alegria, a voz chorosa
Sou, enfim, uma miríade de formas: paisagens amorfas!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

CRIANÇA-DESESPERANÇA

Sinais de trânsito
Consagram-se como a mansão do desespero:
Retina que projeta o pletórico curso
Dos oceanos desmesurados
Tal um caudaloso riacho
Áspero, egoísta, velhaco, avarento!


A nascente de um homem revoltado do amanhã
Aproxima-se dum carro,
Momentaneamente parado,
E pede uma esmola, um trocado
A um varão, quase ás portas da terceira idade,
O qual lhe responde negativamente
Como quem toma posse
Do semântico corpo duma troça,
Proferida por um palhaço insosso, idiota!



Ah, com efeito,
Quando regressar á sua moderna senzala,
Será recebido pelo lancinante e sádico abraço,
Dado pela frustrada materna senhora
Ou por seu irascível patriarca,
Forjados, quem sabe também,
Por um incessante ciclo
Da alijante navalha opressora da miséria:
Sempre a portar o vírus da avidez não contentada, a edace fera!


Ah, pobre menino medrado,
Que se tresmalha da vida.
Indivíduo púbere e opaco
Que não recebe o sol da honrosa alegria.
Jovem homem confinado num mundo
Onde o poder da voragem
É a sua única verdade e sina.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA