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sexta-feira, 20 de novembro de 2009

FREE SOUND

O regue-raiz me fascina:
Ele injeta o soro da consciência
Na flagelada e severina vida-correria.


O regue-raiz anseia
Que a negritude tenha
Audição, compreensão,
Coragem, amor, identidade,
Sede, centelha, seiva, sageza
E sangue quente correndo
Pelas sodomizadas veias
Para lutar contra a sina
De sermos mastros
Sem direito á soberana bandeira
Da abolição verdadeira.


O regue-raiz canta
A dor, a saudade, a teima
De sonharmos com a liberdade contemporânea
Afagando as nossas bochechas,
Têmpera, tez, corpo, a vontade em chamas!


O regue-raiz, afinal,
Quer que nos tornemos
Submarinos, navios,
Veleiros e barcos á vela
Quais transformem o mar
Ressequido do nosso destino
Num dos mais caudalosos
Indômitos oceanos da Terra.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

VERSOS CATÁRTICOS

Farejo o aborto de ideias:
Pensamentos que anseiam
Alcançar o estado de palavra;
Acabam tendo a garganta-vácua
Por cova, arquete, mortalha,
A sua única câmara mortuária!


Farejo vales de sangue
Inundando as esquinas da vida:
Ecoa pelo espaço
O agônico bramido de fera ferida
Em virtude de mais uma morte
Por bala perdida.


Farejo a cidadania
Vivendo á base de morfina e hemodiálise:
Cidadão de primeira classe
É fazer com que toda a nação
Consuma o oxigênio da mente
E das auspiciosas oportunidades á vontade.


Farejo a mão do arco-íris
Pousar sobre o meu ombro:
Apesar da fogueira de vilanias,
Preconceitos, impotências e hipocrisias,
A esperança bate-me no peito
De afro-latinoamericano ainda!



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

ÁS PORTAS DA PSICODELIA POÉTICA

Ando comendo água pela vastidão dos bares da mente.
Ando zarpando pelo Atlântico da memória náufraga, dolente e incontinenti!
Ando constantemente prenhe de paisagens
Pululantes e sôfregas por gente.


Ah,
Como eu queria
Que soubéssemos
Ser o errático bólide do córrego infrene:

Conhecendo o sentido de se estar
Com a planta dos pés na terra;

Levados pelo remanso
De se estar plenamente
Ao sabor do ar livre;

Dispostos a polenizar a matéria
Do desconhecido que
--- á nossa frente ---
Placidamente fica á espera.


Ando sob o efeito
Da alterosa poeira,
Deixada pela energia cinética das ideias
Quais rebentam dos pensamentos quânticos:

Olhar além da gravidade,
Cujo códice de leis nos circunscreve e rege;

Mergulhar no infinito oceano
De mundos paralelos,
Fervilhando nos átomos
Da nossa pele e osso;

Flutuar sobre a onipresente
Neblina da estupradora Tirania,
Juntando-me ás Estrelas
Que formem a Luz da Chama Coletiva
Para derrotarmos a pérfida Realeza da Hipocrisia
E parirmos --- finalmente ---
O Reino da Pax-Poesia.




Ah, que temeridade que digo:
A bem da verdade,
Estou comendo água demais por dias a fio!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A SEMÂNTICA CAMINHADA DOS PENSAMENTOS

A vida é o orfanato da certeza:
Hoje se veste de monarca supremo da onipresença;
Amanhã poderá viver
Como o mais caro patrimônio da ausência.


Lembranças vagam mortas pela cabeça:
Nem mesmo poemas
Conseguem capturar a sua arcana seiva.


Migalhas são ofertadas
Com ares de bonança:
E assim, a camuflagem da sarjeta
Põe em coma o renitente sol da mudança.


A liberdade são veleiros camaliônicos
Que tentam fugir da tirania:
Seus discípulos incondicionalmente a perseguem
Ainda que morram de anorexia.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O VOO-ODE

Eu, a vela, a nau...
Eu, a jornada, a jangada, o jogral...
Eu, as estrelas, a estrada, os estafetas, o estendal...
Eu, a balsa, a valsa, a vala, o caos, a vazante, o vau...
Eu, a seca, a perda, a eira nem beira, a geleira, o fel, a treta, a majestade do sal...
Eu, o berro, a boca, a bomba, a fraga, a flauta, a falta, a sede, o embornal...
Eu, a guerra, a TERRA, a brasa, a cratera, A PRAÇA CELESTIAL...
Eu, a viela, a berinjela, a barrela, a vinícola, a Imagética, o parreiral...
Eu, o silêncio, a mesquita, a catedral, o concreto, a moreia, a Paz, A Pá de Cal...
Eu, o poema, a cadela, os pirilampos da favela, a cena, a marola, o plenilúnio do sol...
Eu, a Caatinga, Ipanema, o mar da Bahia, a poética aridez Cabralina, o Manguezal...
Eu, a ébana lida, Xangô, Tereza Batista, O Sambista, O PAÍS DO CARNAVAL...
Eu, a laje batida, a gata lasciva, o baba dominical...
Eu, o vento, a ventania, o tempo, o outro lado da Física, a ânsia gutural...
Eu, Lião, Policarpo Quaresma, Lea, A Miragem Vil-Metal...
Eu, Luísa Main e Zeferina, Zumbi, João de Deus, Lucas Lira, O Livre Líquido
Mineral...
Eu, Marighella, Che Guevara, Lamarca, Panteão do Araguaia, REVOLUÇÃO,
O Saber de Karl, A INTERNACIONAL...
Eu, Mandela, Malcolm X, Martin Lutter King, O Incolor Sonho Imortal...
Eu, Alegria-Alegria, A Palo Seco, Refazenda, Asa BrAnCA, Milagreiro,
Roda-Viva, Ideologia, Maria-Maria, A Mosca Na Sopa,
O Bêbado E O Equilibrista, Marina, Campo de Batalha e Malandrinha,
O Vento No Litoral...
Eu, o avesso do avesso, o verso, o verbo, a sedução do realejo,
A Comédia acontecendo, o Drama de não se conhecer a si mesmo,
Ocasos, orgasmos, beijos, canaviais, carvoarias, lagrimas efusivas,
A Vida Afinal!



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

domingo, 1 de novembro de 2009

VENTANIAS DA MENTE

Preciso adelgaçar cometas.
Preciso nivelar-me ao celeste azul.
Preciso ler Manuel Bandeira.
Preciso ouvir As Rosas Não Falam, Free Jazz e Blues!


Preciso garimpar as incertezas da certeza.
Preciso tomar um porre de Rum.
Preciso pôr as cartas sobre a mesa.
Preciso flertar com O Bando de Teatro Olodum!


Preciso sentir a textura da tez da minha Preta.
Preciso prementemente ir á rua desnudo do habitual calandu.
Preciso assistir --- de novo --- á película O Baixio das Bestas.
Preciso pagar --- com os juros da cara --- a conta de luz!


Preciso dormir por 8 horas.
Preciso comprar os acústicos de Jorge Benjor, Seu Jorge e Paulinho da Viola.
Preciso gostar de comer chchu e saber que não sou cult.
Preciso criar coragem para suportar o peso da minha Cruz!


Preciso encarar a barrela.
Preciso fazer 1 bilhão de aquarelas.
Preciso descobrir minhas raízes no Benin ou na Nigéria.
Preciso demonstrar mais amor pela Terra.
Preciso ser Angola, Moçambique, Sudão, Somália, Etiópia e África do Sul.
Preciso chupar acerola, umbu, cajá além de caju.
Preciso largar mão de querer rimar com o fonema e o corpo da letra U!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A ESTAÇÃO ABSOLUTA

A espera teve seu cobro,
Porque os matizes da rarefação
Habitam-me a mente
E copulam o meu corpo.


Tenho a leda, refrigerante e vívida sensação
De que posso flutuar qual uma pena:
Floresço como filho da ubiquidade
Pois me transmudo no hialino corcel negro
Que cavalga pelas enigmáticas e copiosas
Alamedas da esconsa face do firmamento,
Onde ascendo ao trono de escudeiro da onipresença.
Ah, ao assumir a forma do vento,
Incorporo a sua mais etérea essência!


Creio olhar as paisagens da consciência
Com plástica, total mas também sóbria clareza:
Impressiona-me como a sensibilidade,
Livre das amarras da ferina indulgência,
Faz-nos mirar, fixamente,
Nos furtivos olhos da malevolência.


No entanto, este ainda não é o crepúsculo
Da minha odisseia:
Ao ter o ensejo de prospectar
O fundo dos olhos da sádica Quimera,
Penetro-lhe no âmago da caverna,
Lugar no qual contemplo a fronte da hipocrisia:
Imagem abjeta! Abjeta! Ojeriza!




Afinal, sinto-me em paz comigo mesmo.
Entretanto a paz com o mundo
É uma atroz miragem que reina
Além das nossas humildes e impotentes vistas,
Confinadas, eternamente,
No éden dos desterros;
Uma imensurável chaga aberta
Pelos prisioneiros da inesgotável
Síndrome da cobiça, da indomada ambição,
Do maléfico e insidioso desejo!


Ah, todavia, sou
O amálgama do correr
Do guepardo e da gazela:
Apesar das intempéries de tristeza,
Que me lancinam e me laceram a mentosfera,
Durmo sereno, ao menos hoje,
Por estar sob o aconchego
Da plácida nave da Primavera.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA