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terça-feira, 7 de julho de 2009

IMORREDOURO DA MENTE

Indelével é a sua face.
Indelével é o seu corpo, silente e calmo bólide caudaloso.
Indelével é o seu mosaical gesto:
Capcioso, modorrenta brisa alegre.
Nunca olvidarei da basáltica pele marrom-formiga.
Que temeridade pegar o metrô errado da vida:
O fogo é o monsenhor da perfídia, cria quimeras daninhas!
Agora, o que paira sobre a paisagem
É o frívolo nevoeiro do vão lamento:
Armar-se, como puder,
Contra o horizonte insidioso
É o único caminho que lhe cabe.
Sinto, não poderá lográ-lo:
Mesmo que o pudesse,
Quando conseguisse tocá-lo,
Ele mudaria de forma
E se revelaria caixa aberta de Pandora.
Enfim, você não pode ser acolhida
Nos braços do éden sonhado.
Todavia,
Não importa, não importa!
No meu horizonte,
Sempre terá lugar cativo.
Ah, no horizonte da mente,
Eu, diariamente,
A persigo! Persigo!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 4 de julho de 2009

VOICES WITHOUT FLOWER AND SUN

Sentado em uma das poltronas do meu ego,
Perscruto nuvens de breu do passado:
Elas são malgas densas
E corpulentos guarda-roupas de fel
Que se tornam febres de lancinação
Do remorso calcinante, cruel!


Então, assim trôpega e amargamente,
Ressingro a alameda
De meus execráveis erros:
Forço-me a ficar ante a torpe face
Dos eus nefandos cuja morada
Deita na crosta da minha pessoa hipócrita, nefasta!


Ah, e quando os contemplo,
Compreendo a real latitude do medo
Que impõe um semblante composto
Pelo nevoeiro de geleiras, êxtase
E sofreguidão por causar infinitos tormentos.


Ah, como quero o perdão
E o alento que minhas vítimas não tiveram.
Como me confortaria poder construir
Uma máquina do tempo
Para regressar á época dos meus tenros delitos:
Sustar-me a materialização dos atos dantescos
Quando, ao penetrar no universo da mente,
Afluísse ao reino do córtex,
Onde instalaria um vírus
Qual pusesse cobro
A germinação dos pensamentos
Malevolamente insanos.




Infelizmente, não posso retroagir no tempo.
Não posso eludir que o remorso irrompa
E vire metástase. Não posso. Por isso
Me transformo em infrenes cachoeiras de elegia e lamento!


Não tenho direito á flora das manhãs.
Não tenho direito á primavera
Cujo aroma pulula da concórdia.
Não tenho direito ao refrigério
Do mental divã que livremente flutua sobre o céu sem agrimensura.
Não tenho direito a verdade que repousa
Dentro do ventre da ametista
Onde se assenta o paraíso do Nirvana.




JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O HOMEM-BAÍA

Os sortilégios da Ondina equatorial sequestraram
O fluxo da vida de um homem.
Os sortilégios das sáfaras equatoriais
Guiam os passos da vida de um homem.
Os sortilégios que emanam da última Esmeralda equatorial
Norteiam a longa jornada de um homem.


Todavia, nesta odisseia,
Ele não está só:
Acompanham-no, não apenas irmãos de cumplicidade,
Mas, sobretudo, cativos.
Cativos da esperança de que floresça
O sol de comestíveis manhãs
Quando chegarem ao crepúsculo da marítima estrada!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A RESIGNADA PRESENÇA DA CHAMA

Sobre a imensurável alameda da memória,
Os passos da voz prosseguem a sua inabalável jornda
Conforme não houvessem fugido da minha humilde enseada:


Eles agem como se convergissem
Sofregamente á foz dos meus escombros
Para acalentar-me a viscosidade do sonho.


Luto, afinal, para me libertar
Dos grilhões do transe. No
Entanto, a rijeza dos sortilégios
Que lhe afloram dos verbos e do basáltico corpo
Descerram-me a porta do perene gozo.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 2 de julho de 2009

MOVIMENTO BRUTO

A cinética dos pratos manifesta-se
Por meio de uma energia externa,
Aparentemente, mantida incógnita
Pelo grande poeta da inépcia.


Observem como eles, os pratos,
Rebentos do reino do opaco,
Rodopiam impulsionados
Pelo inefável viço criptográfico.


Como rodopiam tais entes concretos:
É conforme se movessem
Empedernidos ao medo e aos dédalos do sombrio ego.


Ah, a impressão que me dá
É de que eles começam
Tal como se fossem
Bólides, raios, guepardos
E, ao voejar súbito de uma inesperada lufada-bálsamo,
Parassem paulatinamente:
Redendo-se, gradativamente,
Aos enlevos emanados
Do universo do portal do esgotável.




Ah,
Ao me pegar
Contemplando o desenrolar
Do processo do movimento,
Vejo que parecem ser guiados
Pela perpetuidade qual irrompe deste extático momento.


Contudo, eu denoto
Que a fugacidade soçobra o evo,
Contido na inércia do movimento:


Aí, o ritmo do rodopio
Cada vez mais arrefece
Até os levarem plenamente
Ao estado de estafa
Para os transformar
No mais suculento alimento
Que sacia a força estática.


Afinal,
Um tenaz pensar
Assola o cérebro
E molesta a língua:


Quem neles o movimento fomenta, hein?
Ah, amigos, qual mistério não há,
Porque os pratos são o objeto do desejo
Que obriga os dedos a movimentar
Os dois exemplares da matéria bruta
Até a lassidão plenamente taciturna reinar.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

CONSCIÊNCIA POLIFÓRMICA

Sou dois e outros vários homens
Sou três, e alguns poucos comem
Sou um musical quarteto sem cordas
Sou cem vidas mortas.


Sou trânsfuga do vírus do alheamento
Sou a tinta que dissemina e coagula o político discernimento
Sou o vórtice transformado em primavera
Sou a pedra que erige oceanos, montanhas e Amazônicas Florestas.


Sou o relógio que açaima o furor da pressa
Sou Pearl Jam, Led zapeling, Pink Floyd, Nirvana, Ciranda, Forró, Metálica
Sou a magia do Samba, da Seresta, do Blues, da Bossa, da Música Clássica.


Sou muitas gentes, versos, prosas
Sou a dor, a alegria, a voz chorosa
Sou, enfim, uma miríade de formas: paisagens amorfas!


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

CRIANÇA-DESESPERANÇA

Sinais de trânsito
Consagram-se como a mansão do desespero:
Retina que projeta o pletórico curso
Dos oceanos desmesurados
Tal um caudaloso riacho
Áspero, egoísta, velhaco, avarento!


A nascente de um homem revoltado do amanhã
Aproxima-se dum carro,
Momentaneamente parado,
E pede uma esmola, um trocado
A um varão, quase ás portas da terceira idade,
O qual lhe responde negativamente
Como quem toma posse
Do semântico corpo duma troça,
Proferida por um palhaço insosso, idiota!



Ah, com efeito,
Quando regressar á sua moderna senzala,
Será recebido pelo lancinante e sádico abraço,
Dado pela frustrada materna senhora
Ou por seu irascível patriarca,
Forjados, quem sabe também,
Por um incessante ciclo
Da alijante navalha opressora da miséria:
Sempre a portar o vírus da avidez não contentada, a edace fera!


Ah, pobre menino medrado,
Que se tresmalha da vida.
Indivíduo púbere e opaco
Que não recebe o sol da honrosa alegria.
Jovem homem confinado num mundo
Onde o poder da voragem
É a sua única verdade e sina.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA