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sexta-feira, 16 de setembro de 2011

DIVAGANDO SOBRE A POÉTICA CABRALINA


O verso cabralino

É conciso, sintético;

Mas que transforma

Em Taj Mahal dos pensamentos

Quaisquer ruínas do cérebro.



A fotográfica topografia cabralina

O corpo e a alma dos entes desnuda:

A exemplo do Rio Capibaribe,

O perfeito cão sem plumas;



A exemplo da cabra, que,

Com sua epifânica, sábia e curtida negrura,

Plasma ou cunha --- no DNA filiforme, porém tenaz

Da emigrante nordestina pessoa ---

O gosto pela arte da sobrevivência,

Além do amor pela saudade telúrica;



A exemplo da dileta fruta,

Aferindo-a ante toda uma sorte de frutas

Para poder mostrar

A sóbria apoteose da sua ímpar gostosura.







A poética cabralina

É --- em verdade ---

Um majestático, prolífero reino mineral:



Talhada á água,

Á pedra, a mangue,

Á natureza vestida de sol e sal.



A poesia de Cabral

Não flerta ou transa com o sol do lirismo:

Evita a esparrela de sua areia movediça,

De seu insidioso precipício!



Entretanto a aridez dos versos cabralinos

Derrama sobre nós

Um infinito afluente de sentimentos:



A eloquência de sua iconografia

Faz com que a sua poesia

Induza o leitor ao choro, ao enternecimento,

Á erupção da emoção legítima

Quando a declamamos no apogeu do seu momento!















Afinal a poesia cabralina

Ostenta um dúplice segredo:

A observação como matéria prima

E o seu canto a palo seco.



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

domingo, 20 de fevereiro de 2011

A GRAVIDADE EM COMA

Preciso despressurizar a mente em pânico:
Fazê-la viajar sem medo
Pelos mares-veraneio do remanso benfazejo, tônico, atlântico!

Preciso despressurizar a mente em pânico:
Exorcizar os fantasmas nefandos,
Absorvendo as verdades quais me acossam
E seus longevos danos.

Preciso despressurizar a mente em pânico:
Quero reverter o processo
De atrofia e necrose dos meus neurônios
Para pôr minha vida novamente no prumo.

Preciso despressurizar a mente em pânico:
Saber que viver é um carro desgovernado
Continuamente em trânsito.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A MENSAGEIRA DA LIBERDADE

O sol da utopia
É o pergaminho-lamparina
Que pavimenta e norteia
A alameda-alquimia por onde trilha
A sempre liricamente rija alma peregrina:

Ela se agasalha solícita
Com o manto da esperança,
Torcendo para que um dia
O deserto da mente humana
Vire frondosa e suntuosa Amazônia.


Ah, seu impávido espírito
Vive ao deleitoso sabor
Da ígnea aventura:
Por mais que seu barco-centelha
Naufrague e afunde
Nas profundezas abrasivas da úlcera,
O amor pela vida
Transforma este monumento á ideologia-candura
Na fonte mais prolífica
De imortalidade da magnânima luta.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A NAU DO BARDO ESTÉRIL

Forcejo e reforcejo
Com recalcitrante veemência
O parto de um mero poema:

A minha verve, ao contrário,
Quer se manter inerte,
Em coma, inacessível á pena
Deste poeta-náufrago!

Penso em solfejar
Hinos que esquartejem
A opressão, a amorosa decepção e o flagelo:
Mas, pelo oceano da mente, me navega a nau do deserto.

O pensamento meu --- afinal de contas ---
Hoje não deseja degustar o sol da poesia:
Anseia, a bem da verdade, ser o mor cemitério das ventanias!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

ELEGIA DE UM NÃO-PINTOR

Talvez eu fosse aquarela,
Mas sou apenas um tosco poeta.

Talvez estivesse em Guernica,
Mas testemunho --- todos os dias ---
Florescerem vítimas de banalizadas chacinas
No gigantesco tropical Paraíso do Pré-Sal
E das commodities agrícolas.

Talvez presenciasse
As pinceladas catárticas de Frida,
Mas meu ser se limita
A derramar copiosas lágrimas das vistas.

Talvez vivesse como um viçoso ébano
Que pisasse em sementes de café nos anos vinte ou quarenta
Do evo passado,
Mas me descubro um preto de pés pneumáticos
O qual --- no século XXI --- engendra
Versos natimortos na sua cabeça de asno.




Talvez pudesse dizer a Van Gogh
O quão cultuada e lucrativa
Tornou-se a sua Pintura Impressionista,
Mas somente consigo escrever
--- sobre a folha do caderno Tilibra ---
Letras de aparência carrancuda,
Abjeta: dantesca grafia!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O SOL DE UM NOVO OCASO

Hoje regressamos ao estado de penumbra;
Ontem éramos a orfandade da luz translúcida,
Malévola geleira sem agrimensura
Que não deixa --- ainda que tremeluzente ou irresoluta ---
Que a magistratura do sol e da lua
Essencialmente se consuma:

Ah, o catarro verde
Quer que --- novamente ---
Provemos o sabor-verdade
Do total blecaute
E da bruma profunda, profusa, renitente, alarve,
O dantesco plenilúnio da edaz tempestade!

Ah, sinto estarmos
No limiar da boca da catástrofe:
Creio que, a cada movimento expansivo
De tirania da humanidade,
Ficamos á mercê do reino da vacuidade:
Sim, somos, afinal, escravos do todo-poderoso Hades!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

DEPURAÇÃO

Daqui a algumas eras parcas,
Quererei beber a potável água
Embora eu certamente saiba
Que ela --- em essência clara ---
Seja urina despojada
De ácido úrico, amônia, coloração amarelada:
Ficando, enfim, totalmente dessalinizada!
JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA