BLOGGERAL

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

O VOO-ODE

Eu, a vela, a nau...
Eu, a jornada, a jangada, o jogral...
Eu, as estrelas, a estrada, os estafetas, o estendal...
Eu, a balsa, a valsa, a vala, o caos, a vazante, o vau...
Eu, a seca, a perda, a eira nem beira, a geleira, o fel, a treta, a majestade do sal...
Eu, o berro, a boca, a bomba, a fraga, a flauta, a falta, a sede, o embornal...
Eu, a guerra, a TERRA, a brasa, a cratera, A PRAÇA CELESTIAL...
Eu, a viela, a berinjela, a barrela, a vinícola, a Imagética, o parreiral...
Eu, o silêncio, a mesquita, a catedral, o concreto, a moreia, a Paz, A Pá de Cal...
Eu, o poema, a cadela, os pirilampos da favela, a cena, a marola, o plenilúnio do sol...
Eu, a Caatinga, Ipanema, o mar da Bahia, a poética aridez Cabralina, o Manguezal...
Eu, a ébana lida, Xangô, Tereza Batista, O Sambista, O PAÍS DO CARNAVAL...
Eu, a laje batida, a gata lasciva, o baba dominical...
Eu, o vento, a ventania, o tempo, o outro lado da Física, a ânsia gutural...
Eu, Lião, Policarpo Quaresma, Lea, A Miragem Vil-Metal...
Eu, Luísa Main e Zeferina, Zumbi, João de Deus, Lucas Lira, O Livre Líquido
Mineral...
Eu, Marighella, Che Guevara, Lamarca, Panteão do Araguaia, REVOLUÇÃO,
O Saber de Karl, A INTERNACIONAL...
Eu, Mandela, Malcolm X, Martin Lutter King, O Incolor Sonho Imortal...
Eu, Alegria-Alegria, A Palo Seco, Refazenda, Asa BrAnCA, Milagreiro,
Roda-Viva, Ideologia, Maria-Maria, A Mosca Na Sopa,
O Bêbado E O Equilibrista, Marina, Campo de Batalha e Malandrinha,
O Vento No Litoral...
Eu, o avesso do avesso, o verso, o verbo, a sedução do realejo,
A Comédia acontecendo, o Drama de não se conhecer a si mesmo,
Ocasos, orgasmos, beijos, canaviais, carvoarias, lagrimas efusivas,
A Vida Afinal!



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

domingo, 1 de novembro de 2009

VENTANIAS DA MENTE

Preciso adelgaçar cometas.
Preciso nivelar-me ao celeste azul.
Preciso ler Manuel Bandeira.
Preciso ouvir As Rosas Não Falam, Free Jazz e Blues!


Preciso garimpar as incertezas da certeza.
Preciso tomar um porre de Rum.
Preciso pôr as cartas sobre a mesa.
Preciso flertar com O Bando de Teatro Olodum!


Preciso sentir a textura da tez da minha Preta.
Preciso prementemente ir á rua desnudo do habitual calandu.
Preciso assistir --- de novo --- á película O Baixio das Bestas.
Preciso pagar --- com os juros da cara --- a conta de luz!


Preciso dormir por 8 horas.
Preciso comprar os acústicos de Jorge Benjor, Seu Jorge e Paulinho da Viola.
Preciso gostar de comer chchu e saber que não sou cult.
Preciso criar coragem para suportar o peso da minha Cruz!


Preciso encarar a barrela.
Preciso fazer 1 bilhão de aquarelas.
Preciso descobrir minhas raízes no Benin ou na Nigéria.
Preciso demonstrar mais amor pela Terra.
Preciso ser Angola, Moçambique, Sudão, Somália, Etiópia e África do Sul.
Preciso chupar acerola, umbu, cajá além de caju.
Preciso largar mão de querer rimar com o fonema e o corpo da letra U!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A ESTAÇÃO ABSOLUTA

A espera teve seu cobro,
Porque os matizes da rarefação
Habitam-me a mente
E copulam o meu corpo.


Tenho a leda, refrigerante e vívida sensação
De que posso flutuar qual uma pena:
Floresço como filho da ubiquidade
Pois me transmudo no hialino corcel negro
Que cavalga pelas enigmáticas e copiosas
Alamedas da esconsa face do firmamento,
Onde ascendo ao trono de escudeiro da onipresença.
Ah, ao assumir a forma do vento,
Incorporo a sua mais etérea essência!


Creio olhar as paisagens da consciência
Com plástica, total mas também sóbria clareza:
Impressiona-me como a sensibilidade,
Livre das amarras da ferina indulgência,
Faz-nos mirar, fixamente,
Nos furtivos olhos da malevolência.


No entanto, este ainda não é o crepúsculo
Da minha odisseia:
Ao ter o ensejo de prospectar
O fundo dos olhos da sádica Quimera,
Penetro-lhe no âmago da caverna,
Lugar no qual contemplo a fronte da hipocrisia:
Imagem abjeta! Abjeta! Ojeriza!




Afinal, sinto-me em paz comigo mesmo.
Entretanto a paz com o mundo
É uma atroz miragem que reina
Além das nossas humildes e impotentes vistas,
Confinadas, eternamente,
No éden dos desterros;
Uma imensurável chaga aberta
Pelos prisioneiros da inesgotável
Síndrome da cobiça, da indomada ambição,
Do maléfico e insidioso desejo!


Ah, todavia, sou
O amálgama do correr
Do guepardo e da gazela:
Apesar das intempéries de tristeza,
Que me lancinam e me laceram a mentosfera,
Durmo sereno, ao menos hoje,
Por estar sob o aconchego
Da plácida nave da Primavera.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O SELVAGEM LIRISMO

(TRIBUTO A HILDA HILST)


Caminhando o caminho do diverso,
Ela nos mostra a lírica contida
No ferino, íntegro e libertino verso.


E ao galopar
Cômoda e colossalmente
Sobre o lombo do Pégaso da mente,
A mestra da feérica palavra lasciva e corrosiva,
Munida do antídoto contra a hipocrisia,
Transmuda sáfaras e necrópoles da consciência
Em edens monumentais do pensamento
Cuja paixão é navegar no oceano da contínua luminescência,
Mesmo sendo bombardeada pelo inexorável sol da inveja,
Da ira mais intensa!


Ventania, Rebeldia, Anarquia, Anti-hipocrisia, Amor de carne, Fantasia:
São tantas as alamedas em que ela,
Indomada, desfila;
É tanta a energia que as suas mágicas palavras irradiam;
É tamanha a técnica que domina;
É tão imensurável a certeza de sua cintilante onipresença ladina e arredia
Que, embora seu corpo repouse
Na cidade da augusta dimensão desconhecida,
A verdadeira, alada, carnosa, líquida, alcoólica Poesia
Sua pessoa, sempre e com muita alegria,
Imortaliza!


Vai, Ursa Maior
Vai, Tempestade
Vai, poderosa Melodia
Vai, inesperado e epifânico Graal
Vai, vocabular colossal Estrela ígnea
Vai, POESIA, seja eterna e simplesmente HILDA!JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

SONG OF THE SOUL

Dentro de mim,
O balé do nada baila:
Baila á canção
Da manhã de vontades e sáfaras.


Contudo, dentro de mim,
Mais que o niilismo,
Prepondera a esperança
De que uma nova era rebente
E consigo traga
A Flora, a Aquarela, a Bonança, a auspiciosa Aura:


Oceanos da água pletórica, prenhe, fausta
Para nossa sofrida e calejada
Gente cuja corrente sanguínea
É Pujança, Fauna, Garra Leonina, Matriarca!

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 6 de outubro de 2009

BÍPEDE ARTIFICIAL

As pernas pneumáticas
Levam-me pelo quarto,
Pela sala, pelo subsolo,
Pela varanda, pelo corpo da casa grosso modo.


As pernas pneumáticas
Conduzem-me como um cicerone insano pelas cidades-culturas-personagens:
Lama, mar, PESCADORES, BAIANAS, marinheiros, arranha-céus, becos,
Risorts, bregas, Lacerdas, Malvinas, Ondinas, Lapinhas, LIBERDADE;


InvasÕES, Iemanjás, Sertões, Caatingas, LENçóIS, Santanas, Romaria
Amaros, Romeiros, sobrados, teatros, AlAgaDOS, Diamantinas, BRUMADOS,
Candomblés, Juazeiros, Jubiabados, ITABunas, NegrituDES, Garibaldis,
Jequiés, Cachoeiras, Oguns, Abaetés, ermidas, templos, sincréticas paisagens!


As pernas pneumáticas
Trazem-me de volta:
A minha verve de Pedro Bala adormece, de novo, sob o afago da estafa.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 3 de outubro de 2009

A POEM TO LUCIANA SLONGO

Sábia sensoriedade que semeia jardins de prospectar
A grandeza habitante no templo do orgânico rio dramático da vida.
Sábia sensoriedade que, com sua lírica sagacidade,
Desmascara a atroz teatralidade ladinamente homicida.
Sábia sensoriedade que exala doces aromas de alacridade e magia.
Sábia sensoriedade que compõe odes e árias
Ao heliocentrismo da liberdade.
Sábia sensoriedade que carrega consigo
O gene da sensibilidade capaz de captar
A beleza do mundo,
Encerrada
No imorredouro fluir e refluir do oceano dos dias comumente jucundos.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA