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terça-feira, 30 de junho de 2009

SONHANDO VERSOS UNDERGROUND

Meus pensamentos fluem
Obliqua e obtusamente:
Sua natureza flerta
Com a tez da bruma
E com o reino da esguelha.


Meus pensamentos desejam ser
A porta aberta que guarda
A alameda da órbita
Onde reside os versos
Quais revelam os mistérios dos
Sítios subterrâneos da mente e da alma.


Meus pensamentos anseiam
Ser pavimentados pelo cimento
Da indignação por testemunharem,
Impotente e pungentemente,
O florescer de flagelos, Guantânamos,
Miragens de erudição, diamantes sanguinolentos,
Frondosas árvores da metropolitana velhacaria
E crisálidas crepusculando sob a ternura
Do descaso que emana do seio do átrio da antemanhã urbana.



Meus pensamentos são assim:
Querem ser versos
Que sejam o perfume da gente comum
Embora saibam-se cativos
Da frívola e tosca eloquência:
Vivenda da poesia vazia, vã!






Afinal, gostaria que meus pensamentos
Portassem o vírus da consciência underground
Para que pudessem extrair do cosmo alijado
A real noção da forma dos seres e das coisas
Por debaixo da derme fabricada.


JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

sábado, 27 de junho de 2009

CINEMÁTICA DA LEMBRANÇA

Deambulo meu faminto olhar
Pelo infinito imaginário
Que se assenta sobre o quarto:


Paisagem do intrínseco relicário
---- cujo fluxo, pensava eu,
Encontrava-se definitivamente tresmalhado ----
Fecunda-me novamente o escalavrado ideário.


Aí, testemunho, vividamente,
Como se estivesse de corpo presente,
O embarque e desembarque dos entes
Quais, em algum momento,
Compartilharam o tropegar
Da mesma ambígua e longa estrada


Para, bem no meio do percurso,
Sem ultimatos, sutilezas nem prelúdios,
Fragmentarem-se em intangíveis córregos,
Congostas, vozes, brumas, arbustos e alamedas
De destino errático, eunuco:
A tremeluzente constelação
De sombras e incertezas que pavimenta o humano mundo.


E quando regresso da viagem
---- liberto dos sortilégios da embriagante miragem ----
Procuro, conforme fosse prisioneiro
Da sede de quem somente se sacia
Sorvendo sofregamente
O cristalino elementar liquido,
A mádida égide do caseiro abrigo.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

O GIRASSOL TENAZ

A tirania esventra os hialinos horizontes
Do livre voar da prole do córtex:
Faz, hoje, uso do fuzil da latência,
Ancorado no trapiche do reino do povo,
Para açaimar o distinto lúcido coro.


Somos prisioneiros da matrix:
Não falo daquela controlada pelas cibernéticas máquinas,
Mas da matrix regida
Pelos intemperançosos vermes homo sapiens
Que ostentam a vil-metálica gravata.


Ah, no entanto,
Apesar de áridas e encarceradas
Na galáxia das esperas malogradas,
As mentes negam-se a parar de retesar o sonho
De que um dia finalmente
Se transformem no eternal reino de suntuosas águas cor de cristal.


Enfim,
Abrigadas confortavelmente no templo da certeza
De que um dia a liberdade florescerá
Para elas,
Enfrentam as intempéries do mundo
De cabeça erguida e com o olhar
De manhã infinitamente fazendo raiar o sol da primavera.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

quinta-feira, 25 de junho de 2009

COM O ONTEM AINDA DIURNO NA MEMÓRIA

Ouço barulho de mar ali ao longe:
Ele é a ressonância duma saudade insone.


O mar --- ao ler manhãs ---
Aquece sobejadamente a alma,
Por dissabores, desenganos, amargura, flagelos e chagas,
Integralmente lancinada.


As imagens que suscitam a extática contemplação
Orvalham um sinestético mosaico
De orgânicas paisagens,
Ancoradas no pleno afã de orgasmos da fascinação
Que residem na frenética dinâmica do ciclo dos indeléveis verões:


De fato, são esperanças que aguardam
Sequiosamente a exposição
Da indomável cinemática das águas,
Personificada pela contínua sessão
De onipotentes e radiosos vagalhões
Cuja rijeza açaima toda e qualquer sombra de acomodação.


Ouço barulho de mar ali ao longe:
Parece ser tão vívido, estar tão próximo
Que quase me transformo
Numa enlevante catarata de lágrimas incessantes:
Oceano fluindo sem represa nem paragem. É o
Sol do H2O selvagem qual irrompe da verve
Como aurora emocionada:
Aquântica órfã de agrimensura, de estremaduras,
De estafetas que portem, na fala,
O amor pela calorosa e balsâmica enseada.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

A PROLE DA FÉ

Olhemos atentamente o que ostenta
A imagem transmitida pela tv:
No noticiário noctívago,
O cortejo trôpego da gente
De semblante sulcado, sofrido, álacre, lôbrego,
Mestiço, sôfrego, extasiado, sertanejo e íntegro
Faz ecoar seu religioso cântico
De celebração da vida.


Em cada um deles,
Templos da diáfana credulidade
Se edificam, prosperam,
Irrompem-lhes o DNA,
Cultivando novos jardins da cintilante flor amarela,
Tornando-se, enfim, o núcleo, o entorno
E o todo da sua orgânica matéria.


Por isso, quando quase exauridos,
Em seu dúctil ânimo,
Pelo perverso itinerário de chagas, desgraças e látegos,
Erigido por seu sinuoso fado,
Não optam por se entregar ao refrigerante vácuo,
Á reconfortante quietude infinita
Do prematuro ocaso;
Deixam, ao contrário,
Que a chama da crença
Dome e incendeie seu abstrato cosmo corpóreo,
Metamorfoseando-o no mais inexpugnável dos santuários!


No entanto,
Apesar dos sacerdotes ou zagais da mentira,
Dos paraísos ou oásis
Que segredam as perniciosas areias movediças,
A aura da esperança,
Encerrada no coração
Daquelas pessoas generosas, denodadas,
Transmite respeito, comove, cativa
Um centurião marxista.



JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

terça-feira, 23 de junho de 2009

REINO DEVOLUTO

Gradativamente,
Ela cria atmosferas ignescentes
Dentro do corpo:


As labaredas ganham massa,
Recrudescendo-me e grassando-me
Por toda a planície e ravinas do frágil organismo primata.


Sinto-a degustar-me a pele:
Á erupção do vulcão
Minha matéria converge.


Então sou sauna:
Doravante me converto
No ponto máximo de trilhões de fornalhas.


Com efeito, minha temperatura atinge 40 graus Celsius na escala:
Metamorfoseio-me na infrene tremedeira insaciada,
Sou, portanto, a voraz febre hemorrágica!


Assim, dali a pouco,
A urina, o excremento e o plasma prorrompem sôfregos
Do humano moribundo esqueleto carnoso.


Afinal um mar vermelho se forma, expandindo-se suntuosodomina, preenche toda a lacuna do íntimo cômodo
E deixa a vida sem gleba, latifúndio ou trono.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA

OLARIA DA POESIA RAQUÍTICA

Fabrico toscos tijolos da Lírica:
Em seguida, monto o poema
Com toneladas do cimento
Da ferina lâmina dos sentimentos


Ou com a onipotente argamassa da líquida reflexão
(a sua concisa e basilar alvenaria).
Assim ---- ei-la, enfim ----
Como a mais eloquente desnutrição da poesia.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA